Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 11 de Novembro


Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 11 de Novembro

Lc 17, 1-6 – Correção fraterna

 

Nesta passagem, Jesus fala aos seus discípulos sobre a liberdade espiritual necessária para restaurar a boa convivência e a amizade entre as pessoas. E mostra que não se trata simplesmente de um procedimento social ou de uma reconciliação da boca para fora, mas de uma atitude mística, nascida da comunhão com Deus. Aquele que trouxer o amor (ágape) divino, em seu coração, jamais abrirá espaço para algo que possa prejudicar a vida de seu semelhante. Ao contrário, será abençoado por uma harmoniosa relação entre o espírito e a graça, que o conduzirá à união com Deus, fonte de íntimo e verdadeiro respeito para com todos. A paz e a união devem prevalecer sempre. A vigilância dos homens em relação a isso há de ser constante e não menos incessante o desejo da correção fraterna: reorientar para Deus aquele que errou ou praticou o mal.

O modo como Jesus apresenta a correção fraterna aos discípulos – e podemos nos incluir entre eles – é bastante simples. Exige apenas um pouco de sensibilidade e delicadeza. Para alcançá-la, há três etapas possíveis. Na primeira, tentamos resolver a questão pessoalmente e se não tivermos sucesso, podemos contar com a ajuda de mediadores, amigos ou parentes, que servirão de agentes e testemunhas da reconciliação. Se ainda assim fracassarmos, podemos recorrer aos representantes da Igreja. Neste caso, entra a função sacramental do sacerdote. São Cesário de Arles recomenda:

“Não demos unicamente o pão aos que têm fome, mas apressemo-nos em conceder nossa indulgência aos que pecaram contra nós. Quanto ao modo de aplicar aos nossos inimigos este remédio da verdadeira caridade, mesmo quando eles não nos pedem, encontramos no Evangelho: ‘Se teu irmão pecou contra ti, repreende-o pessoalmente’. Se negligencias este mandamento do Senhor, tu és pior que teu adversário: pois ele te fez mal, e te fazendo mal, ele se feriu gravemente. Negligencias a ferida de teu irmão? Tu vês que ele morre ou que ele vai morrer, e tu não te importas? Tu és pior te calando do que ele te ofendendo. Repreende-o a sós: sê cheio de fervor para corrigi-lo, mas poupa o teu respeito humano! Pois a vergonha poderia levá-lo a defender o seu pecado; e, aquele que queres tornar melhor, tu o tornarias pior”.

         De fato, temos a obrigação de repreender imediatamente nosso irmão para que, ao nos fazer o mal, ele não permaneça no pecado. Escreve São Jerônimo: “Não só temos o poder de perdoá-lo, mas somos obrigados a fazê-lo, pois nos foi ordenado perdoar os que nos ofenderam”. Aquele que pensa ser mais fácil esquecer a ofensa e deixar o pecador entregue ao seu próprio destino está bastante enganado. “Jesus mostra, ao contrário, a necessidade de buscar muitas vezes curá-lo da sua culpa”, lembra-nos São João Crisóstomo.

O que deve nos mover é o desejo de realizar em nosso irmão uma mudança de conduta que transforme sua vida. Caso ele não nos escute, nem mesmo diante de duas ou três testemunhas, melhor seguir a recomendação de Santo Agostinho: “Ainda que ele não seja considerado mais, pela Igreja, como um dos teus irmãos, nem por isso deixes de te preocupar com a sua salvação”.

         A correção fraterna se funda no infinito amor de Deus, compartilhado por todos nós. Não é um amor acidental, que vem de nossa condição de simples criaturas. É algo muito maior. É um dom divino, que nos permite penetrar na vida trinitária para assim nos tornar cada vez mais semelhantes ao nosso Criador (divinae consortes naturae). São Basílio Magno afirma que essa é a semente ou a força (he agapetiké dýnamis) que nos impele a alcançar a perfeição do amor divino. Vitória do bem sobre o mal, pois por meio do amor se dissolve em nós o rancor, o ressentimento e o ódio. A aquisição do amor divino acontece no exercício do amor ao próximo. Uma de suas expressões: a correção fraterna.

 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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