Reflexão do Evangelho de Terça-feira – 19 de Novembro


Reflexão do Evangelho de Terça-feira – 19 de Novembro

Lc 19, 1-10: O chamado de Zaqueu

        

        Jesus entra na cidade de Jericó. Uma multidão acotovela-se e se comprime ao seu redor. Um homem, chamado Zaqueu, de pequena estatura deseja vê-lo. Como publicano, recolhedor de impostos, ele não era benquisto pela população, que o via a serviço dos dominadores romanos. Ninguém lhe cede lugar.  Corre à frente e, com persistência, tenacidade e muita decisão, ele sobe numa árvore junto ao caminho, gesto interpretado como um ato deliberado e livre, que o situa acima das amarras da riqueza e dos bens materiais. Por isso, comenta S. Cirilo de Alexandria, “Não há outro modo de ver Jesus a não ser subindo no sicômoro”.

Ao longo do Evangelho, S. Lucas testemunha o apelo de Jesus a todos, homens e mulheres, pobres e ricos. Agora, levantando os olhos, Ele o contempla no sicômoro e diz-lhe: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje devo hospedar-me em tua casa”. Chama-o pelo nome, indicando que Deus se recorda dele, com misericórdia. “O mal, observa S. Ambrósio, não está nas riquezas, mas no fato de não usá-las bem”. Em Jesus, não é Deus que se reconcilia com Zaqueu, mas convidando-se para ir à sua casa, Jesus lhe concede o dom gratuito da justificação e ele passará a viver de acordo com o significado de seu nome, “o puro”.  

O relato do encontro com Zaqueu vem logo após o milagre da cura do cego, sugerindo uma correlação entre ambos. A propósito, escreve S. Ambrósio: “Zaqueu subiu ao sicômoro, o cego permanece à beira do caminho. O Senhor olha o cego demonstrando sua compaixão e engrandece o outro com o esplendor da sua visita; interroga um porque deseja curá-lo, vai à casa do outro, sem ter sido convidado, pois sabia quão grande era a recompensa para quem o hospedasse. Zaqueu, embora não tivesse ainda ouvido a sua oferta, já sentira o seu afeto”. As palavras de Jesus chegam ao coração de Zaqueu, como as palavras do Senhor ao bom ladrão: “ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Pois receber Jesus em sua casa ou entrar em seu Reino atesta o mesmo e único mistério de nossa união com Jesus. S. Agostinho entende que Jesus fez esse convite para mostrar “que, tendo acolhido Zaqueu no coração, condescendeu ser hóspede em sua casa para infundir-lhe a graça da salvação”.  

Com efeito, Zaqueu nasceu para uma vida nova, pois a conversão leva-o a dar a metade de seus bens aos pobres e usar a outra metade para reparar aos que ele tinha defraudado. Ainda que fosse desprezado pelo povo, que o considerava um pecador perdido, ele não deixou de ser objeto das promessas feitas a Abraão. Para além do mistério, o Inefável bate à porta do seu coração e uma certeza se impõe a nós: inesperadamente e sempre, Jesus vem ao nosso encontro e quer conviver conosco. A nós é dado participar das alegrias eternas que, no dizer de S. Cipriano, significa tomar posse do paraíso perdido.

 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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