Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 20 de Novembro
Reflexão
do Evangelho de Quarta-feira – 20 de Novembro
Lc
19, 11-28: Parábola dos talentos
Jerusalém
está bem próxima. Avizinha-se o fim e Jesus já antevê a cruz como serviço
supremo a ser realizado em benefício de toda a humanidade. Nessa situação
compreende-se o fato de os discípulos pensarem que o Reino de Deus ia se
manifestar imediatamente. A exigência de estar preparado para aquele momento não
leva à utopia de se sentir livre das responsabilidades da vida presente. Muito
pelo contrário. Ela postula, justamente, a necessidade de assumir os trabalhos
de cada dia. Por isso, Jesus arrefece o entusiasmo pela vinda imediata do
Reino, contando-lhes a parábola dos talentos.
Ao
viajar “para uma região longínqua”, um homem de nobre origem distribui aos seus
servos, uma determinada quantia de bens, que eles deverão restituir com lucro. O
fato reflete a confiança depositada pelo proprietário em seus servos, aos quais
ele confia o seu dinheiro, a cada um segundo a sua capacidade. Nessa situação,
encontra-se cada um de nós. Deus nos concedeu o tesouro da vida, os dons do
amor e os bens que possuímos. Podemos escondê-los e seremos ricos
interiormente, mas pobres diante de Deus. Pois Ele espera que produzamos frutos
e sejamos leais à sua mensagem durante a sua ausência. Ele retornará; e há de
se estar preparado para esse momento.
A
exigência de produzir frutos indica a capacidade de atingir horizontes sempre
mais amplos, abrindo, para aqueles que acolhem e multiplicam os dons, o
luminoso panorama de um futuro mais pleno e feliz. Estes terão presentes as
palavras de Jesus: “Digo-vos, a todo aquele que tem será dado e terá em
abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado”. O importante é
administrar com fidelidade os dons recebidos.
Eis a
grandeza e a delicadeza do amor divino. Sem ofuscar a beleza da mensagem
evangélica, os dons recebidos tornam-se força capaz de fecundar nossa vida
humana em seu ser e agir, aperfeiçoando-nos e conformando-nos sempre mais à
imagem e semelhança de Deus. Assim, para S. Boaventura, “o dom de Deus, se ele
for acolhido, torna o homem mestre dele e do universo. A criação não será um
oceano de passividade. Ela é Deus infinitamente fecundo, engendrando filhos que
conduzem a ele a criação inteira e a humanidade da qual eles não são só pedras
inanimadas, mas membros vivos” (Étienne Gilson).
Segundo
alguns autores cristãos posteriores, a parábola desvela o princípio-chave de
compreensão da vida humana, expresso na fórmula: “gratia supponit et perficit
naturam”. A natureza, aperfeiçoada pela graça, cruza o portal da esperança no
encontro com o seu Senhor. Não são duas realidades que se justapõem. É a
realização da natureza, que atinge a sua perfeição, pelo dom da graça.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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