Reflexão do Evangelho de Mt 5, 20-29 - A nova justiça é superior à antiga - Quinta-feira - 12 de Junho
Reflexão do Evangelho de Mt 5, 20-29 - A
nova justiça é superior à antiga
Quinta-feira - 12 de Junho
Na cultura da época, a punição era dura
e por vezes mais pesada do que a infração. Jesus situa-se em outra ordem e
estabelece princípios, que inspirem os filhos de Deus a vencer o mal pelo bem e
amar os próprios inimigos. Às proibições, Jesus antepõe a virtude do amor
fraterno. Por isso, de modo enfático, Ele proclama: “Não matarás, aquele que
matar terá de responder em juízo”. Para o Senhor, é impensável tirar, de modo
voluntário, a vida de alguém, primariamente, pelo fato de ele estar agindo
contra o próprio Deus, “à imagem e semelhança do qual” todo ser humano foi
criado. S.
Gregório de Nissa dirá que o ser humano é “imagem viva de Deus”, não apenas
enquanto ser espiritual, mas também em seu ser corpóreo. No seu todo, como ser
único e indiviso, ele é um retrato de Deus, de modo que, através de sua
grandeza e dignidade, refletida de modo pleno em Jesus Cristo, pode-se entrever
a face humana de Deus. Criado por Deus, o homem é conduzido, por uma ação
paciente e constante, a assemelhar-se Àquele à imagem do qual ele foi criado,
isto é, o Verbo encarnado, Jesus Cristo, nas palavras de S. Irineu. O homem,
então, é impelido a elevar
o seu pensar e o seu agir à beleza e à harmonia do mistério da vida, cuja
grandeza está em assumir a responsabilidade e o verdadeiro amor a si e ao
próximo.
Consequentemente,
o ato de matar não é um ato contra a dignidade da pessoa humana. Quem mata é
movido pelo desejo de
“apoderar-se do que é de Deus, sem Deus”, destruindo a fraternidade humana,
realidade valiosa, porta de entrada da graça divina. Quem o faz, abala as bases
da vida humana em sociedade. O pecado não é exacerbado, mas é situado no plano
primário de Deus, que consiste em restaurar o homem e levá-lo à comunhão
fraterna. O amor, a paciência e o perdão, dons divinos, dilatam o seu coração e
ele passa a compreender, em seu íntimo, que mesmo “quem se encolerizar contra o
seu irmão, terá de responder em juízo” (v.22).
Para além do
crime e do castigo, o olhar de Jesus alcança a intenção oculta no coração
humano, sede do pecado que, semelhante a uma semente, cresce e se desenvolve,
pouco a pouco, a menos que não seja superado e destruído pela graça de Deus,
fogo divino, que penetrando o seu coração purifica-o de seus vícios e
estabelece a vitória do amor e da força vivificante de Deus. É o próprio Mestre
que, de modo direto e compassivo, nos conduz à fonte originária da vida cristã,
a caridade.
A todos, Jesus concede o antídoto
contra o pecado: a misericórdia, a bondade e a paciência, nascidas de um
coração pleno de amor e de perdão. O contrário, tirar a vida de alguém ou se
encolerizar contra um irmão, torna-se inimaginável. S. Agostinho dirá: “Vivamos
o amor e façamos o que quiser”. Pois quem ama jamais ofenderá o irmão e não
deixará de corresponder às exigências do Evangelho. S. João Crisóstomo exclama:
“Ó admirável bondade de Deus! Ó amor, que vai além de nossos pensamentos! Ele
descuida da honra que lhe é devida, para salvar a caridade que devemos ter para
com o próximo. Ele mostra que as advertências, apenas pronunciadas, não se
originam da aversão e muito menos do desejo de punir, mas do imenso amor que Ele
nutre pelos homens”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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