Reflexão do Evangelho de Mt 5, 43-48 - Amor aos inimigos - Terça-feira17 de Junho
Reflexão do Evangelho de Mt 5, 43-48 -
Amor aos inimigos
Terça-feira17 de Junho
Oculto em sua humanidade, o Filho de
Deus não só se dá a conhecer como “suprema epifania” do amor incomensurável de
Deus, mas também nos inclui em sua vida humano-divina. Nele, amamos a Deus e,
no mesmo amor concedido a nós por Ele, amamos o próximo. Eis a chave da nossa
esperança, com a qual abrimos a porta do nosso coração para entrever o novo
horizonte do povo de Israel, renovado por Jesus. Sem negar a afetividade (éros),
força natural para o bem, vive-se o amor-doação (ágape), que confere asas à
alma e a eleva ao belo e ao desejo da felicidade eterna. Com efeito, a comunhão
em Deus, além de superar todas as fronteiras de raça e de preconceitos, torna o
éros, força presente no coração humano, e o amor divino (ágape), conaturais à
condição humana.
Por
isso, sem qualquer receio, os primeiros cristãos proclamam a total
compatibilidade do eros e do ágape, colocando-os no interior do mistério da
salvação. Em outras palavras, embora não deixem de assinalar a degeneração do eros
em práticas religiosas ou cultos idolátricos, não para negá-lo, mas para propor
a sua purificação, eles acentuam a unidade do amor presente na criação e na
história da salvação. Nesse sentido, grande foi o mérito de Orígenes, que
destaca, na interpretação do Cântico dos Cânticos, a acepção mística e
espiritual do eros, ao estabelecer as relações Logos-alma, Cristo-Igreja. A
mesma unidade encontra-se no Pseudo Dionísio Areopagita, ao referir-se à
Bondade e à Beleza: “O que é Belo e Bom, diz ele, é desejável (erastón),
apetecível e amável (agapetón)”.
A visão unitária do amor postula a
todos que vivam a comunhão com os membros da família ou da própria raça, mas
também com todos os homens, mesmo, com os seus próprios inimigos. O amor, fogo
do céu, reduz às cinzas o pecado e transporta o homem, para além da fé e da
esperança que hão de passar, ao sabor espiritual do amor divino: amor não
possessivo, impregnado de respeito e de afeto desinteressado, que o leva a sair
de si mesmo para sentir com o outro e no outro. Realizam-se então as palavras
de Jesus: “amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”. Se do ponto de
vista meramente humano, alguém julgasse ser impossível efetivar semelhante amor,
julgando-o inacessível, diríamos: o amor não provém apenas do alto, sem vínculos
com a realidade humana, pois o eros, amor do homem ao bem e à beleza não se
separa do ágape, do amor salvador de Deus, que é o nosso Criador. Por
consequência, no encontro com nossos irmãos, como seguidores do Senhor, nós não
vemos o mal que o outro nos faz, mas sim o mal presente em sua vida, prejudicando-o
e afastando-o de Deus. E na prática do bem, esforçamo-nos para que ele se volte
para o Senhor e caminhe de acordo com os divinos ensinamentos.
Dom Fernando Antônio Figueiredo,OFM
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