Reflexão do Evangelho - Sábado 28 de Fevereiro
Reflexão
do Evangelho
Mt
5, 43-48 - Amor aos inimigos
Sábado
28 de Fevereiro
Oculto
em sua humanidade, o Filho de Deus não só se dá a conhecer como “suprema
epifania” do amor incomensurável de Deus, mas também nos inclui em sua vida
humano-divina. Nele, amamos a Deus e, no mesmo amor concedido a nós por Ele, amamos
o próximo. Eis a chave da nossa esperança, com a qual abrimos a porta do nosso
coração para entrever o novo horizonte do povo de Israel, renovado por Jesus. Sem
negar a afetividade (éros), força natural para o bem, vivemos o amor-doação (ágape),
que confere asas à alma e a eleva ao belo e ao desejo da felicidade eterna. Com
efeito, a comunhão em Deus, além de superar todas as fronteiras de raça e de
preconceitos, torna o éros, força presente no coração humano, e o amor divino (ágape),
conaturais à condição humana.
Por isso, sem qualquer receio, os
primeiros cristãos proclamam a total compatibilidade do eros e do ágape,
colocando-os no interior do mistério da salvação. Em outras palavras, embora
não deixem de assinalar a degeneração do eros em práticas religiosas ou cultos
idolátricos, não para negá-lo, mas para propor a sua purificação, eles acentuam
a unidade do amor presente na criação e na história da salvação. Nesse sentido,
grande foi o mérito de Orígenes, que destaca, na interpretação do Cântico dos
Cânticos, a acepção mística e espiritual do eros, ao estabelecer as relações
Logos-alma, Cristo-Igreja. A mesma unidade encontra-se no pseudo Dionísio
Areopagita, ao referir-se à Bondade e à Beleza: “O que é Belo e Bom, diz ele, é
desejável (erastón), apetecível e amável (agapetón)”.
A
visão unitária do amor exige que se viva a comunhão com os membros da família
ou da própria raça, mas também com todos os homens, mesmo, com os próprios inimigos.
O amor, fogo do céu, reduz às cinzas o pecado e transporta o homem, para além
da fé e da esperança, que hão de passar, ao sabor espiritual do amor divino:
amor não possessivo, impregnado de respeito e de afeto desinteressado.
Realizam-se então as palavras de Jesus: “amai-vos uns aos outros assim
como eu vos amei”. Se do ponto de vista meramente humano, alguém julgasse ser
impossível efetivar semelhante amor, julgando-o inacessível, diríamos: o amor não
provém apenas do alto, sem vínculos com a realidade humana, pois o eros, amor
do homem ao bem e à beleza não se separa do ágape, do amor salvador de Deus,
que é o nosso Criador. Por consequência, no encontro com nossos irmãos, nós não
vemos o mal que o outro nos faz, mas sim o mal presente em sua vida, prejudicando-o
e afastando-o de Deus. E na prática do bem, esforçamo-nos para que ele se volte
para o Senhor e caminhe de acordo com os divinos ensinamentos. Nós os amamos.
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