Reflexão do Evangelho - Sexta-feira 27 de Fevereiro

Reflexão do Evangelho
Mt 5, 20-26 - A nova justiça é superior à antiga
Sexta-feira 27 de Fevereiro

Na cultura da época, a punição era dura e por vezes mais pesada do que a infração. Jesus situa-se em outra ordem e estabelece princípios, que inspiram os filhos de Deus a vencer o mal pelo bem e amar os próprios inimigos. Às proibições, Jesus antepõe a virtude do amor fraterno. Por isso, de modo enfático, Ele proclama: “Não matarás, aquele que matar terá de responder em juízo”. Para o Senhor, é impensável tirar, de modo voluntário, a vida de alguém, primariamente, pelo fato de ele estar agindo contra o próprio Deus, “à imagem e semelhança do qual” todo ser humano foi criado. S. Gregório de Nissa dirá que o ser humano é “imagem viva de Deus”, não apenas enquanto ser espiritual, mas também em seu ser corpóreo. No seu todo, como ser único e indiviso, o homem é um retrato de Deus, de modo que, através de sua grandeza e dignidade, refletida de modo pleno em Jesus Cristo, pode-se entrever a face humana de Deus. Criado por Deus, o homem é conduzido, por uma ação paciente e constante, a assemelhar-se Àquele à imagem do qual ele foi criado, isto é, o Filho de Deus feito homem,  nas palavras de S. Irineu. O homem, então, é impelido a elevar o seu pensar e o seu agir à beleza e à harmonia do mistério da vida, cuja grandeza está em assumir a responsabilidade e o verdadeiro amor a si e ao próximo.
       Consequentemente, o ato de matar não é só um ato contra a dignidade da pessoa humana. Quem mata é movido pelo desejo de “apoderar-se do que é de Deus, sem Deus”, destruindo a fraternidade humana, realidade valiosa, porta de entrada da graça divina. Quem o faz, abala as bases da vida humana em sociedade. O pecado não é exacerbado, mas é situado no plano primário de Deus, que consiste em restaurar o homem e levá-lo à comunhão fraterna. O amor, a paciência e o perdão, dons divinos, dilatam o seu coração e ele passa a compreender, em seu íntimo, que mesmo “quem se encolerizar contra o seu irmão, terá de responder em juízo” (v.22).
       Para além do crime e do castigo, o olhar de Jesus alcança a intenção oculta no coração humano, sede do pecado que, semelhante a uma semente, cresce e se desenvolve, pouco a pouco, a menos que não seja superado e destruído pela graça de Deus, fogo divino, que penetrando o seu coração purifica-o de seus vícios e estabelece a vitória do amor e da força vivificante de Deus. É o próprio Mestre que, de modo direto e compassivo, nos conduz à fonte originária da vida cristã, a caridade.

A todos, Jesus concede o antídoto contra o pecado: a misericórdia, a bondade e a paciência, nascidas de um coração pleno de amor e de perdão. O contrário, tirar a vida de alguém ou se encolerizar contra um irmão, torna-se inimaginável. S. Agostinho dirá: “Vivamos o amor e façamos o que quiser”. Pois quem ama jamais ofenderá o irmão e não deixará de corresponder às exigências do Evangelho. S. João Crisóstomo exclama: “Ó admirável bondade de Deus! Ó amor, que vai além de nossos pensamentos! Ele descuida da honra que lhe é devida, para salvar a caridade que devemos ter para com o próximo. Ele mostra que as advertências, apenas pronunciadas, não se originam da aversão e muito menos do desejo de punir, mas do imenso amor que Ele nutre pelos homens”. 

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