Reflexão do Evangelho do dia 22/09/2012
Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo
para:
Sábado – 22 de setembro
Lc 8, 4-15 – Parábola do semeador
Na
introdução à parábola do semeador, o evangelista fala-nos que Jesus “saindo de
casa, sentou-se junto ao mar”. Ele deseja levar os leitores à compreensão de
que Jesus, enviado pelo Pai, saiu de junto de Deus para vir ao mundo. As
primeiras palavras da parábola nos sugerem uma ideia semelhante: “Saiu o
semeador a semear”. Referem-se a Jesus, o Filho de Deus, que vai à multidão e,
no dizer de S. João Crisóstomo, “torna-se mais próximo a nós pela sua
Encarnação”. A semente lançada em terra
é ele mesmo que, mediante sua palavra, busca penetrar cada coração e aí criar
raízes e dar frutos. S. Cirilo de Alexandria assevera que “Jesus é o verdadeiro
Semeador”. Tudo o que há de bom, ele “comunica a nós, terra boa, cuja messe são
os frutos espirituais”.
Delineia-se a aventura da semente
caindo no terreno dos corações humanos. A parábola alcança, então, sua intenção
principal: salientar o destino da semente. Proveniente do alto, ela germina de acordo
com a qualidade de cada terreno. Com efeito, “uma parte foi lançada à beira do
caminho”, terreno “pisado pelos pés de todos”. Escreve S. Cirilo de Jerusalém:
“Grão pronto a ser levado pelos pássaros, que são os espíritos imundos”. Outra
parte das sementes “foi semeada em lugares pedregosos”. “Não é capaz de criar
raízes e logo sucumbe, face à tribulação ou à perseguição por causa da
Palavra”. Significa ter uma fé superficial. S. Cirilo volta a dizer: “Não há
aprofundamento do mistério e sua piedade é evanescente e sem raiz. Eles são
fracos no espírito”. Diz, ainda, a parábola: “outra parte cai entre os
espinhos”. S. Jerônimo comenta: “Os espinhos representam os corações dos que se
tornam escravos dos prazeres e dos cuidados desse mundo. Sufocam a Palavra de
Deus e fragilizam o vigor da virtude”.
Se alguns grãos não
têm sucesso, tal fato é superado pelo número vertiginoso do tríplice rendimento
do grão que encontra terra boa. Ela produz “fruto à razão de cem, sessenta e
trinta por um”. De fato, a luz divina, ainda que vislumbrada através de uma
estreita fresta, dilata prodigiosamente a alma. Ela se transforma e,
purificada, irradia justiça, paz e alegria espirituais.
Ela produz frutos em abundância. Então, escreve S. Vicente de Paulo: “À
luz da fé percebereis que os pobres estão no lugar do Filho de Deus que
escolheu ser pobre. Tereis os mesmos sentimentos de Cristo e imitareis aquilo
que ele fez; ter cuidado, pelos indigentes, consolá-los, auxiliá-los, dar-lhes
valor”.
Na conclusão, diz Jesus: “Quem tem
ouvidos, ouça”. Forte, solene e conciso apelo. O terreno corresponde à
disposição interior do coração humano. Depende da acolhida dada à sua Palavra.
A responsabilidade cabe a cada pessoa em sua liberdade. S. João Crisóstomo
destaca que “não tem culpa, nem o lavrador, nem a semente, mas a terra que a
recebe, e mesmo assim não por causa da natureza, mas por força da intenção e da
disposição”. S. Basílio Magno pergunta-se: “Como compreender as palavras de
Jesus: ‘Quem tem ouvidos para entender, entenda?’ É evidente que alguns possuem
ouvidos melhores e melhor podem entender as palavras de Deus. Mas o que dizer
dos que não têm tais ouvidos? ‘Surdos, ouvi, e vós cegos, vede’ (Isaías
42,118). Expressões todas elas usadas em relação ao homem interior”.
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