Reflexão do Evangelho do dia 29/09/2012



Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Sábado – 29 de setembro
Jo 1, 47-51 – Encontro com Natanael

Natanael é considerado por Jesus como um verdadeiro israelita, um homem “sem duplicidade”. Nele “não há artifícios”. Ele não é uma pessoa entregue ao fingimento e à mentira.  A declaração de Jesus expressa a pureza do coração e o dom sem reserva de Natanael. Faz-nos recordar o mandamento do Senhor: “amar a Deus, sem reserva, de todo o coração”. O contrário seria ter um “coração duplo” ou não ser alguém inteiramente de Deus. Pois alimentar a duplicidade em seu agir implicaria estar em desobediência a Deus.
 A saudação a Natanael: “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento” reflete o conhecimento profético de Jesus. Surpreso, Natanael pergunta: “De onde me conheces?” Buscando tranquilizá-lo, Jesus lhe diz: “Antes que Felipe te chamasse, quando estavas sob a figueira, eu te vi”. Diante de tais palavras, Natanael prostra-se, exclamando: “Rabi, tu és o Filho de Deus, és o Rei de Israel”. Jesus poderia estar recordando a árvore do paraíso, aludindo ao pecado de Adão e de Eva ou dos idosos julgados por Daniel. Segundo os Livros históricos, poderia indicar o repouso “sob a vinha ou a figueira”, imagem da paz. Interpretação esta feita pelos profetas. Por outro lado, caso designasse uma árvore seca ou a perda de seus frutos, simbolizaria o castigo. Segundo a tradição rabínica, interpretação mais comum na época, o fato de estar sob a árvore atesta a participação no conhecimento do bem e do mal. Em outras palavras, descreve a aplicação ou a consagração ao estudo das Escrituras, fonte do conhecimento sagrado.
O chamado de Natanael é um exemplo da pedagogia de Jesus. Expressa o crescimento na fé de quem busca Deus. De início, Natanael possui um conhecimento imperfeito e interessado a respeito do Messias, rei de Israel. No encontro com Jesus, há um crescimento interior. Ao reconhecê-lo como o Messias, ele professa a fé no Filho do Homem, cujo sacrifício abrirá as portas do céu para toda a humanidade. S. João Crisóstomo declara que Natanael interroga como homem e Jesus responde como Deus: “Eu te vi sob a figueira”. Jesus já o conhecia, não como um homem que observa, mas como Deus que tudo conhece. Jesus diz unicamente o necessário. Natanael, recebendo o sinal indubitável e profético de Jesus, confessa o Cristo: “Tu és o Filho de Deus, tu és aquele que esperamos”. Expectativa que exprime a capacidade de superação, que torna possível Natanael “decolar” e lhe confere participar da grandeza presente em Israel, povo no qual Deus faz sua morada.
A narração do encontro encerra-se com as palavras de Jesus: “Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. Os horizontes alargam-se e Jesus mostra a todos, como declara S. João Crisóstomo, “que não há nada mais importante do que as realidades do céu. Nada deve distanciar a nossa atenção da expectativa do reino dos céus”. Nesse mesmo sentido, S. Cirilo de Alexandria interpreta a referência aos anjos de Deus. Diz ele: “Com esta alusão aos anjos de Deus, o Senhor nos convoca a passar das realidades passageiras às eternas, das terrenas às celestes, das carnais às espirituais”. Nenhum condicionamento terreno seria capaz de satisfazer-nos, nem definir-nos. Somos chamados, como Natanael, a nos ultrapassarmos infinitamente.

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