Reflexão do Evangelho do dia 12/09/2012
Reflexão
de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Quarta-feira
- 12 de setembro
Lc
6, 20-26 - As bem-aventuranças
O
termo grego “makários” (feliz) corresponde a “baruk”, em hebraico, e se relaciona
com as promessas da aliança, anunciadas no sermão das bem-aventuranças. Elas
indicam o cumprimento de todas essas promessas. São bênçãos da aliança eterna
para o novo povo de Deus. Se elas descrevem a serenidade no tempo presente,
também expressam a felicidade eterna saboreada pelo homem quando da visão de
Deus. As perfeições evangélicas, exaltadas por Jesus no sermão da montanha, como
meios para alcançar a paz e a harmonia, apontam também para a salvação
escatológica. Em suma, designam a serenidade concedida à alma agora, pela
contemplação, e na eternidade, pela visão beatífica.
Em suas palavras iniciais, Jesus convida
seus ouvintes a alçarem seus olhos ao céu, no intuito, comenta Orígenes “de fazê-los
elevar seus pensamentos para o alto”. Jesus promete torná-los felizes nesta
terra e, especialmente, conduzi-los à bem-aventurança perfeita do céu, já
participada aqui e agora, em meio aos sofrimentos deste mundo. É o que nos diz S.
Gregório de Nissa, em suas “Oito homilias sobre as bem-aventuranças”. Escreve
ele: “A bem-aventurança é a vida pura e sem mistura. Ela é o bem inefável,
inconcebível, a inexprimível beleza, o poder que está acima de tudo, o único
desejo, a realidade sem declínio, a exaltação sem fim”.
As quatro primeiras bem-aventuranças
expressam a esperança presente no coração de todo o povo de Deus. É a
restauração do domínio de Deus ou do seu reinado. Em Deus serão saciados os que
têm fome e sede de justiça, os pobres em espírito (os anawe ruah). Serão
consolados os aflitos, os maltratados e os abatidos. As demais bem-aventuranças
proclamam o amor fiel (hesed) dos que ouvem e observam os ensinamentos do
Senhor. No vigor do amor, eles experimentam a serenidade, vivem pacificamente,
e proclamam a recompensa prometida. Diz Jesus: “Alegrai-vos naquele dia e
exultai, porque no céu será grande a vossa recompensa”.
Portanto, as bem-aventuranças restauram a
criatura humana em sua liberdade fundamental. Pois só quem é, interiormente,
livre vai vivê-las intensamente. Estará sempre mais unido a Cristo,
assemelhando-se a ele, em sua humildade. Mais ainda. No discípulo vai se
refletir a divina humildade, a encarnação (kénosis) do “Servo sofredor”, de tal
modo que, ao expressar o desejo de eternidade, de paz e de justiça, ele não se
altera diante das hostilidades e injustiças, mas as supera. Na liberdade da
pobreza em espírito, ele permanece sereno, confirmando, assim, sua verdadeira identidade,
vivificada pelo dinamismo do amor. Cumpre-se nele o reinado de Deus, que chegou
a nós com a vinda de Jesus.
Tornam-se, então, compreensíveis as
palavras de S. Gregório de Nissa: “Só
Deus é bem-aventurado. A comunhão na bem-aventurança só nos é acessível se nos
tornarmos semelhantes a ele”. S. Gregório explicita que o “assemelhar-se”
significa “a pobreza em espírito, que leva a viver, na renúncia, a humildade
voluntária de um espírito humano; e o Apóstolo dá-nos um exemplo dessa pobreza
de Deus quando nos diz: ‘Sendo rico, fez-se pobre por vós, a fim de enriquecer-vos
com sua pobreza’” (2Cor 8,9).
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