Reflexão do Evangelho de Quinta-feira – 24 de Outubro


Reflexão do Evangelho de Quinta-feira – 24 de Outubro

Lc 12, 49-53 - Jesus diante de sua Paixão (sinal de contradição)

        

No Evangelho de hoje, eleva-se a voz de Jesus ao proclamar: “Eu vim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso!” Não o fogo vingador ou o fogo da Geena, da condenação, mas o fogo já anunciado por S. João Batista, o fogo do batismo que nos permite renascer para uma nova vida. Aliás, fogo e batismo fluem juntos. João Batista anunciava: “Virá aquele que vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3,16). Comenta S. Cirilo de Alexandria: “Este fogo é a salvífica mensagem do Evangelho e o poder dos seus ensinamentos. O Evangelho inflama todos nós sobre a terra, levando-nos a uma vida de piedade e tornando-nos fervorosos no espírito”. É belíssima a consideração de S. Ambrósio, quando exclama: “O Senhor Jesus enviou este fogo à terra: desde então brilhou a fé, se acendeu a devoção, se iluminou a caridade e resplandeceu a justiça”. As palavras de Jesus remetem-nos também a Pentecostes, já anunciado por Ele, no qual o Espírito seria comunicado aos Apóstolos precisamente sob a forma de línguas de fogo.         

         Orígenes faz algumas considerações em forma de paráfrase ao texto bíblico. Escreve ele: “Quem está perto de mim, diz Jesus, está perto do fogo; quem está longe de mim está longe do Reino”. Neste sentido, o fogo seria consequência da proximidade, portanto, da vinda do Cristo, provocando a alternativa anunciada: Estar em Cristo ou não, deixar-se queimar por Ele ou se excluir do Reino. Deixemo-nos invadir por este fogo, que purifica, ilumina e inspira um reverente temor a Deus e à sua palavra agindo em nós!

         Por conseguinte, a vida cristã se define pela fidelidade a Jesus Cristo, manifestação inefável do amor divino. Deus vem a nós, faz-se homem, e o homem eleva-se à plenitude divina, porque a união das duas naturezas em Cristo é o fim último para o qual o mundo foi criado. Para São Máximo, “a encarnação e a deificação (santificação) se correspondem e se implicam mutuamente”. Tal ascensão suscita no homem a aspiração pelo que o supera, “desejo de eternidade”, ínsito em seu coração. Por isso, ao se sentir maior que a própria realidade do mundo, ele é tentado a se comparar a Deus e, ao fazer a experiência de sua fundamental liberdade, no âmago de seu ser, ele olvida a graça e julga ser ele mesmo a causa de sua salvação, como pretendia Pelágio. Ou adota o trio espiritual maléfico, no dizer dos monges do deserto, o egoísmo, a ganância e a cobiça.

Tornam-se, então, claras as palavras do velho profeta Simeão, dirigidas ao menino Jesus, declarando-o “sinal de contradição”. Acolhe-se ou não o Filho de Deus encarnado como Salvador do gênero humano e recapitulador da História. Coloca-se a favor ou contra ele. Neste sentido, no Evangelho de hoje, o próprio Jesus alerta que “numa casa com cinco pessoas, estarão divididas três contra duas e duas contra três”, pois no dizer de Santo Ambrósio, “cada um de nós é a casa ou de Deus ou do demônio. A casa espiritual é a do homem espiritual, na qual dois se dividem contra três e três contra dois”.

 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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