Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 21 de Outubro
Reflexão do Evangelho
de Segunda-feira – 21 de Outubro
Lc 12, 13-21: Não
ajuntar tesouros
Embora
recuse ser o mediador na questão de herança entre dois irmãos, Jesus não deixa
de aproveitar a ocasião para elevar o espírito de seus interlocutores e
fazê-los passar dos interesses temporais ao “tesouro” eterno no Reino dos céus.
Alertando contra a excessiva preocupação com os bens deste mundo, ele lhes
recomenda: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na
abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens”. De fato, escreve
S. Agostinho, “a cupidez divide, a caridade reúne todas as pessoas”. Por isso,
S. Ambrósio, com um sabor de crítica, observa: “O que se deveria buscar é a
herança da imortalidade, não a do dinheiro, e assim jamais se deveria chamar
Jesus para fazer tal divisão”.
Para ilustrar o seu
pensamento, Jesus conta a parábola do rico, cuja terra tinha produzido muitos
frutos. “Ele, então, refletia: Que hei de fazer? Não tenho onde guardar minha
colheita”. Após construir celeiros maiores, diz: “agora, repousa, come, bebe,
regala-te”. E Jesus encerra a parábola com as palavras: “Insensato, nessa mesma
noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão?” E,
voltando-se para seus ouvintes, conclui: “Assim, acontece àquele que ajunta
tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus”.
Suas palavras valem não só para os que disputam a herança, mas também
para os demais ouvintes. Todos são exortados a se afastarem da avareza, considerada
como egoísmo e idolatria, e a se deixarem guiar por uma real atitude de
confiança filial e fraterna. S. Cirilo de Alexandria, meditando tais palavras,
após afirmar que “a cupidez é uma forma de idolatria”, reconhece que “somos
alertados por Jesus contra a cobiça, pois ela constitui ódio tanto aos homens
quanto a Deus”. Ao invés, a confiança em Deus torna-nos livres para dispor
generosamente de nossos bens e solidificar nossa convivência fraterna.
A
alternativa que Ele estabelece não é entre a pobreza e a riqueza, mas entre a realização
terrestre, temporária, e a plenitude celeste, eterna. De um lado, a avareza,
fechada sobre si mesma, estéril, e de antemão condenada por uma morte
inevitável; de outro lado, a generosidade que distribui aos outros, mais
pobres, o que se recebeu da liberalidade do Criador e da natureza. O modelo é o
próprio Cristo que, longe de guardar avara e egoisticamente para si sua
natureza e sua riqueza divina, se aniquilou ao encarnar-se, a fim de vencer com
sua morte o mal, o egoísmo e a vaidade do pecado. Diante das palavras do rico
que dizia: “Vou demolir meus celeiros, construir maiores, e lá hei de recolher
todo o meu trigo e os meus bens”, S. Agostinho declara com ênfase: “o estômago
do pobre é o depósito mais seguro para os grãos recolhidos”.
S.
Basílio Magno, referindo-se a este texto, destaca que Jesus “queria conduzir o
espírito do homem à generosidade para com os pobres. Toma consciência, ó homem!
Quem é esse que dá? Lembra-te de ti mesmo: Quem és tu? Do que és responsável?
De quem o recebeste? Por que tens recebido muito mais do que muitos outros? Tu
te tornaste ministro do Deus todo bondoso para administrar em favor de teus coirmãos.
O que tens em tuas mãos, tu deves considerar como não te pertencendo. Por um
pouco de tempo tu gozas destes bens, depois eles passam, e te pedirão contas
deles. ‘Dizes tu: que farei eu?’ É necessário dizer: ‘Eu saciarei a alma do
pobre, eu abrirei meus celeiros, convidarei todos os infelizes’. Lançarei este
apelo magnífico: Vós que não tendes pão, vinde a mim! Que cada um tome sua
parte, como de uma fonte que pertence a todos, pois são bens dados por Deus!”
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
Comentários
Postar um comentário