Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 29 de Janeiro
Reflexão do Evangelho
de Quarta-feira – 29 de Janeiro
Mc 4, 1-20 – Parábola
do semeador
Na
introdução à parábola do semeador, o evangelista fala-nos que Jesus saindo de
casa, sentou-se junto ao mar, sugerindo a ideia da vinda de Jesus ao mundo,
“para estar, pela sua Encarnação, mais próximo a nós” (S. João Crisóstomo). No
início da parábola, Ele volta a dizer: “Saiu o semeador a semear”, referindo-se
a Jesus, que veio lançar a semente da Palavra em nossos corações para que ela
penetre e crie raízes, dando muitos frutos. S. Cirilo de Alexandria insiste que
“Jesus é o verdadeiro Semeador, que comunica a nós, terra boa, a boa semente da
Palavra e cuja messe são os frutos espirituais”.
É a aventura da semente no terreno
dos corações humanos. A intenção principal da parábola é justamente salientar o
destino da semente, que, proveniente do alto, germina de acordo com a qualidade
de cada terreno. Assim, “uma parte foi lançada à beira do caminho”, terreno
“pisado pelos pés de todos”. Então, destaca S. Cirilo de Jerusalém, “o grão é levado
pelos pássaros, que são os espíritos imundos”. Outra parte das sementes “caiu em
lugares pedregosos e não é capaz de criar raízes, estes não têm constância nem
profundidade. A semente logo sucumbe, diante das tribulações ou da perseguição
por causa da Palavra, pois não há aprofundamento do mistério e a sua piedade é
evanescente e sem raiz. Estes são fracos no espírito”. Há também as sementes
que caem entre os espinhos, que, S. Jerônimo interpreta como sendo “os corações
dos que se tornam escravos dos prazeres e dos cuidados desse mundo. Sufocam a
Palavra de Deus e fragilizam a virtude”.
O fato de alguns
grãos não terem sucesso é superado pelo número vertiginoso do tríplice
rendimento do grão que encontra terra boa. Ele produz “fruto à razão de cem,
sessenta e trinta por um”, pois a luz divina, ainda que só encontre uma pequena
e estreita fresta no coração humano, dilata-o prodigiosamente e ele,
transformado e purificado, irradia justiça, paz e alegria espiritual. Então, a
semente expressa sua realidade criadora, fazendo eco imediato de uma inspiração
que une, quem a acolhe, a um povo e à Aliança da misericórdia divina. Seus
frutos serão abundantes. Portanto, o desígnio divino não é arbitrário. O que
Cristo anuncia, Ele quer realizar em nós, e quer que sejamos o que Ele é: filhos
do Pai celestial.
Na conclusão, diz
Jesus: “Quem tem ouvidos, ouça”. Forte, solene e conciso apelo. O terreno
corresponde à disposição interior do coração humano, de sorte que a
responsabilidade cabe a cada pessoa em sua liberdade. S. João Crisóstomo
destaca que “não tem culpa, nem o lavrador, nem a semente, mas a terra que a
recebe, e mesmo assim não por causa da natureza, mas por força da intenção e da
disposição”. S. Basílio Magno pergunta-se: “Como compreender as palavras de
Jesus: ‘Quem tem ouvidos para ouvir, ouça’? É evidente que alguns possuem
ouvidos melhores e melhor podem entender as palavras de Deus. Mas o que dizer
dos que não têm tais ouvidos? ‘Surdos, ouvi, e vós cegos, vede’ (Isaías
42,118). Expressões todas elas usadas em relação ao homem interior”.
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, OFM
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