Reflexão do Evangelho de Terça-feira – 21 de Janeiro
Reflexão do Evangelho
de Terça-feira – 21 de Janeiro
Mc 2, 23-28 – A
colheita das espigas
Cristo mais uma vez
quebra as regras rígidas de seu tempo. “Ele proclama o sábado da graça e da
ressurreição eterna, e não o da Lei”, escreve S. Ambrósio. De fato, o descanso
sabático era um dia reservado à oração e à meditação. Um período para recordar
e celebrar a bondade de Deus e a grandeza de sua obra. Entretanto, os
discípulos de Jesus sentem fome e desrespeitam o sábado colhendo milho para
comer. Os escribas e fariseus ficam escandalizados. Não porque os cristãos
apanhavam as espigas, o que era permitido por lei, mas por o fazerem no sábado.
Os evangelistas aproveitam esse episódio da vida de Jesus para revelar seus
ensinamentos e sua missão.
O
serviço do Templo pode dispensar os sacerdotes das obrigações do sábado. Santo
Hilário de Poitiers nos lembra: “Jesus é ele mesmo o Templo”. Sendo assim, não
há nada de extraordinário no fato de os discípulos, a serviço do Filho do
Homem, sentirem-se dispensados de tais exigências, já que estão em comunhão com
Cristo. É bom deixar claro que Jesus não nega o valor do sábado. Ele reconhece
que o homem e o seu trabalho são santificados neste dia consagrado a Deus. É a
garantia da Aliança e da entrada do povo eleito no “repouso eterno”.
Um
dos rituais do Templo na época de Jesus era o dos doze pães da proposição,
colocados no altar e substituídos todos os sábados por outros recém-assados.
Apenas os sacerdotes podiam comê-los. Em seu Evangelho, Mateus conta quais
foram as palavras de Jesus quando os fariseus o acusaram de permitir que seus
discípulos fizessem o que era proibido no sábado: “Não lestes o que fez Davi
num dia em que teve fome, ele e seus companheiros, como entrou na casa de Deus
e comeu os pães da proposição?” (Mt 12, 3-4).
Com estas palavras,
Jesus deixa claro que a misericórdia, para Ele, vinha antes de qualquer
sacrifício, como era o caso do jejum. Aos famintos, que se lhe deem o que
comer, mesmo que sejam espigas de milho colhidas no sábado consagrado ao
Senhor: “Porque o Filho do Homem é senhor também do sábado!”
Ele queria que este
dia da semana fosse entendido como uma disposição benevolente de Deus para
proteger o homem em sua vida e em seu trabalho, e não apenas como uma exigência
arbitrária e tirânica. Jesus não incita ninguém a trabalhar no sábado, mas sim
a reservá-lo para obras de caridade e ao amor ao próximo. Ele ainda responde
assim à hostilidade dos fariseus: “É permitido, pois, fazer o bem no dia de
sábado”. (Mt 12 -12) E, logo em seguida, cura a mão atrofiada de um homem que
estava na sinagoga. Isso em pleno sábado. As curas também eram proibidas nesse
dia da semana.
Os ouvintes de
Cristo, particularmente os fariseus, “são remetidos à prática das obras de
misericórdia que Deus espera de todos nós”, lembra-nos São Cirilo de
Alexandria. O zelo pela observância do sábado não pode ser motivo de cegueira.
Acima dele está a prática da caridade. Jesus não veio abolir a lei do sábado.
Para São Crisóstomo, Ele “quer torná-lo ainda mais majestoso, pois tudo o que
foi prescrito na Lei, nele se cumpriu”.
Com Jesus, o sábado,
e mais tarde o domingo, torna-se um convite à contemplação dos mistérios da
vida, que se efetiva, por meio da graça divina e da liberdade humana, na união
com Deus.
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, OFM
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