Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 10 de Janeiro
Reflexão do Evangelho
de Sexta-feira – 10 de Janeiro
Lc 5, 12-16: Cura de
um leproso
Na certeza de que Jesus é capaz de aliviá-los das aflições e doenças, os
discípulos depositam nele suas preocupações. Agora, lá está um leproso, que lhe
suplica: “Senhor, se queres, tens poder para purificar-me”. Pela Lei mosaica, a lepra era considerada uma
doença passível de excomunhão. Quem a contraísse seria excluído do convívio comunitário
e se, por acaso, alguém fosse curado, ele devia submeter-se ao rito de purificação.
Por isso, ao milagre da cura de um leproso, sinal dos tempos messiânicos,
liga-se a purificação.
Apesar de tais restrições e normas, ele não hesita em aproximar-se do Mestre,
que sereno, não o rejeita nem dele se afasta, acolhe-o. A cena comove os Apóstolos,
levando-os à admiração e ao enlevo espiritual. De sua parte, profundamente
sensibilizado, o leproso se prosterna, em sinal de adoração e, num ato de
profunda humildade e de abandono confiante, implora: “Se queres, podes
limpar-me”.
Colocando-se
acima da interdição da Lei, Jesus estende a mão e o toca. Toca-o, ciente de que,
longe de ser contaminado pelo leproso, ele pode purificá-lo. Aos ouvidos dos
discípulos, soam as palavras de Jesus: não é do exterior que provém a impureza,
mas sim do interior do coração. Assim, “movido de compaixão, estendeu a mão,
tocou-o e disse: ‘Eu quero, sê curado’”. S. Cirilo de Alexandria comenta: “Ele
lhe concede o toque de sua mão santa e onipotente e, imediatamente, a lepra se
afastou dele e o seu sofrimento terminou”. Então, o santo alexandrino exclama:
“Uni-vos a mim na adoração a Cristo, que exercia contemporaneamente o poder
divino e corpóreo, Ele o cura e o toca”. Orígenes dirá que Jesus “o tocou para
demonstrar humildade e ensinar-nos a não desprezar ninguém, por causa das
feridas ou manchas do corpo”. E continua: “Que não haja em nossa alma a lepra do
pecado; que não retenhamos em nosso coração nenhuma contaminação de culpa, e se
a tivermos, adoremos ao Senhor e lhe digamos: ‘Senhor, se queres, podes
limpar-me’”.
Apesar
de ser miraculosa, a cura do leproso não é, simplesmente, uma ocorrência
medicinal. É fruto da ternura de Jesus, principalmente. Ele “tem compaixão” e o
leproso, curado em sua carne, sentiu-se, sobretudo, amado, aceito e
reabilitado. Os santos, tocados em seu íntimo, elevam-se à contemplação do
espiritual. S. Francisco de Assis, por exemplo, vendo um leproso, dele se
aproxima e ao beijá-lo sente doçura em sua alma e profunda paz em seu coração. Esse
fato transforma sua vida e caracteriza sua conversão como entrega radical ao
Senhor, pois, no leproso, Francisco experimenta Deus, que, com suavidade e
rigor, o chama a crescer, cada vez mais, na acolhida do Mistério do seu amor. Não
houve necessidade de muitas experiências, uma única já o conduz à visão de um
mundo novo, mais fraterno e solidário. Então, ele compreende as palavras do
Senhor: “Quem não renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz não é digno de mim”. S.
Isaac, referindo-se às palavras do leproso, comenta que ele confessa duas
coisas, “sua impureza e o poder do Senhor, e implora uma terceira: a cura”. E
ele conclui: “Todo homem que invoca o nome do Senhor, com confiança, será salvo
e ouvirá: ‘Eu quero, sê curado’”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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