Reflexão do Evangelho de quarta-feira 03 de agosto
Reflexão do Evangelho de quarta-feira 03
de agosto
Mt
15,21-28 - Cura da filha da Cananeia
Jesus se encontra em terra estrangeira, cuja
população se liga aos antigos cananeus, execrados pelos judeus. E é uma filha
desse povo que suplica, exclamando como os dois cegos: “Tem piedade de mim,
Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim; a minha filha está horrivelmente
endemoninhada” (Mt 15,21). No dizer de S. Hilário de Poitiers, “a filha da
mulher cananeia aparece como figura de todos os povos pagãos, que se converterão
ao Senhor”. A resposta imediata de Jesus reflete a mentalidade presente entre
os judeus, de que o Messias daria prioridade aos filhos de Israel: “Não fica
bem tirar o pão dos filhos e atirá-los aos cachorrinhos”. No entanto, a cananeia
persevera e não desiste, sua fé é grande e ela crê que Ele pode curar a sua
filha. Com confiança, ela profere a surpreendente confissão: “Isso é verdade,
Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus
donos! ” “Para seu proveito, escreve S. Efrém, ela não levou em conta o fato de
Jesus se referir ao cão. Por isso, declara o próprio Senhor: ‘Mulher, grande é
a tua fé! ’”
Por
sua atitude humilde, a cananeia torna-se modelo para a Igreja e manifesta que o
Reino de Deus se estende para além dos limites étnicos e sociais, o que leva S.
Agostinho a exclamar: “A mulher provém de um povo pagão e é símbolo e figura da
Igreja, grandemente louvada pela sua humildade, enquanto outros estão cheios só
do seu orgulho”. De fato, livre de todo preconceito e não temendo ir a um
estrangeiro, ela aborda o Senhor, rogando-lhe a cura de sua filha e, em seu
despojamento, ela revela sua abertura radical ao amor e à bondade divina.
A
cena nos comove e nos encanta. A simplicidade e sinceridade da mulher refletem sua
cordial entrega nas mãos de Deus, o que nos faz lembrar a cândida alma de
Francisco de Assis, que, louco por Cristo e pela “dama pobreza”, vive a
liberdade interior. A mulher não exige, simplesmente suplica, não é arrogante,
coloca-se aos pés do Mestre, na humildade e no respeito a toda criatura, mesmo
a um simples cachorrinho. Agora, ao dirigir à mãe o seu olhar, Jesus desperta confiança
inextinguível no coração orvalhado daquela mulher, que ao ouvir as suas
palavras: “pelo que disseste, vai: o demônio já saiu da tua filha”, ergue-se e,
com um sorriso grato e alegre, retira-se. E no coração dos que lá estavam, arde
a chama sagrada da misericórdia divina.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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