Reflexão do Evangelho de sábado 20 de agosto





Reflexão do Evangelho de sábado 20 de agosto

Mt 23, 1-12 -  Hipocrisia e vaidade dos fariseus



        No tempo de Jesus, as autoridades religiosas, mais precisamente, alguns fariseus, sentam-se na “cátedra de Moisés”, no desejo de serem reconhecidos e exaltados pelo povo, como cumpridores do ideal do judeu observante. Mas por não colocarem em prática o que ensinavam, eles esvaziam as leis divinas de sua verdadeira intenção, e estabelecem regulamentos humanos, designados por Jesus como “pesados fardos, que colocam nos ombros” do povo. Ao contrário deles, os ensinamentos do Mestre refletem simplicidade e ternura pelos mais humildes; sua oração é suave, simples e causa mais prazer que obrigação; sua interpretação da Lei traduz compreensão e conduz à prática do bem. No entanto, os fariseus o rechaçam e consideram sua atuação como “contra a Lei”. Jesus não se intimida. Porém, evitando resvalar numa religião do “ópio”, que amorteceria o sofrimento e a humilhação dos pequenos com falsas promessas, Ele liberta seus ouvintes da visão de um Deus “déspota”, que escraviza e tolhe a alegria da vida.  

        Por isso, após ter confundido os herodianos, saduceus e escribas, Ele agora se dirige aos fariseus, rigorosos e tradicionalistas intérpretes das mínimas prescrições da Lei. Se eles substituem a Lei de Deus por normas obrigatórias, Jesus fala da salvação universal, que inclui vida, alegria e paz para toda a humanidade. Por isso, diz-lhes: “Ai de vós, fariseus, sábios e guias espirituais! Hipócritas! ”. A multidão e os discípulos o escutavam com prazer. De fato, em vez de situar a Lei entre Deus e os homens, Ele orienta seus ouvintes a um relacionamento pessoal direto com o Pai, Deus das misericórdias. E não só. Ele alerta sobre o perigo de que a mera observância exterior das prescrições esteja escondendo, sob o manto de uma pureza legal, uma impureza interior; quem vive assim, longe do conteúdo da pregação dos profetas, “é como um sepulcro caiado”.

A crítica de Jesus não atinge diretamente a Lei ou as suas prescrições, mas sim a atitude e a mentalidade com que os fariseus as observavam: se fazem alguma coisa, é para serem admirados por todos. Para Jesus, não existe espaço para o casuísmo, tampouco para os pesados fardos postos nos ombros dos outros; o que vale é a caridade para com todos, pois o amor, que atrai e une, estabelece o Reino de Deus, como a plenitude eterna, já presente em nossa história.   

         A voz do Senhor, mais afiada do que uma espada, soa como um vivo apelo à conversão (metánoia) e à vivência interior da fé no amor e na comunhão fraterna; urge passar do pecado à virtude, do erro à verdade. Se muitos deles afastam-se de Jesus, porque incapazes de observar o sentido mais profundo da Lei: o amor a Deus e ao próximo; muitos outros se convertem e compreendem, segundo Orígenes, que “os verdadeiros discípulos de Jesus ligam a Lei de Deus à mão, pela prática das boas obras. Jamais fazem dos mandamentos penduricalhos diante dos olhos de sua alma”. Alusão aos fariseus, que escreviam o Decálogo da Lei em finos pergaminhos, levando-os dobrados e atados em suas frontes, pois julgavam estar assim cumprindo os mandamentos da Lei.



Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM          

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