Reflexão do Evangelho de segunda-feira 29 de agosto





Reflexão do Evangelho de segunda-feira 29 de agosto
Mc 6,17-29 - Morte de João Batista

A atividade de João Batista situa-se “no deserto”, lugar de oração e recolhimento, mas também, na linha de interpretação do Êxodo, lugar de conversão e de um novo início na caminhada para a vida eterna, fim destinado por Deus a todos os seres humanos.  Daí seu estilo de vida simples e austero, sem propriedade, vivendo do que o deserto lhe fornecia: gafanhotos e mel silvestre; vestindo pelos de camelos com um cinturão de couro rude. Com a audácia de um eremita, queimado pelo sol, João é o profeta, que largando tudo, vivia em função do futuro, anunciando a vinda do Messias.
O relato de sua morte é uma espécie de prelúdio à missão redentora de Jesus, à sua morte na cruz, como cumprimento dos desígnios de Deus. Muitos autores apontam semelhanças entre os dois: ambos foram profetas e ambos testemunharam a verdade, trazendo esperança e conforto aos espíritos ávidos de consolo e de paz, ao preço de sua própria vida.  A expectativa messiânica recorda o hino composto pelo Dêutero-Isaías, que descreve a passagem de um cortejo pascal por um deserto, que se transforma, diante da face do Senhor, num jardim florido. À frente, conduzindo-o, vem um arauto que prepara os que se encontram ao longo do caminho para receber aquele que avança. O arauto, muitos diziam que era João Batista, assassinado por ordem de Herodes; e “aquele que avança e tudo renova” era Jesus, que foi entregue a Pôncio Pilatos por seus adversários, e, após, levado à morte.
Às margens do rio Jordão, João Batista prega a penitência, anuncia profeticamente o juízo final e declara aos doutores da Lei que o fato de serem filhos de Abraão não era garantia de salvação: ele os convoca a produzir frutos dignos de conversão, de arrependimento, pois dizia: “Já o machado está posto à raiz das árvores e toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo”. Sua mensagem sobre o juízo compreende a oferta do batismo a todos, também a Herodes, que se colocava acima da lei. Núncio do Messias, com sua imperturbável convicção profética, ainda em liberdade, ele prefere afrontar o ódio do rei, em vez de negar os mandamentos de Deus apenas para adulá-lo. Na verdade, apesar de ter sido aconselhado por João a deixar o pecado do adultério, porque Herodes vivia em concubinato com a mulher do próprio irmão, o rei preferiu livrar-se do homem que o advertia de seu erro. Efetivamente, observa São Pedro Crisólogo: “A virtude torna-se indesejável para aqueles que são imorais; a integridade é motivo de sofrimento para os corruptos; a misericórdia é intolerável aos cruéis”.
Os últimos momentos da vida de João Batista são descritos por Orígenes como sendo os de um profeta que morreu com a certeza de dever cumprido: “João reprovava Herodes com a liberdade de um profeta. Levado à prisão por causa disso, não temia a morte, mas somente pensava no Messias que ele tinha anunciado. E não podendo ir ao seu encontro, envia dois de seus discípulos para interrogá-lo: ‘És tu aquele que deve vir? ’. Os discípulos retornam, relatando ao seu mestre o que o Salvador tinha dito. Então, João, armado para o combate, morre com segurança”. Como não podia deixar de ser, o profeta morria como viveu: dando testemunho da justiça e da liberdade do amor.

Dom Fernando Antônio Figueiredo,OFM

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