Reflexão do Evangelho de terça-feira 30 de agosto
Reflexão do
Evangelho de terça-feira 30 de agosto
Lc 4,31-37 - Jesus
em Cafarnaum e a cura de um endemoninhado
Em sua peregrinação, Jesus e os Apóstolos iam a Cafarnaum, mais do que
a outras cidades. Lá, Jesus permanecia na casa de Simão Pedro ou de André, seu
irmão. No sábado, eles iam à sinagoga, lugar de encontro da comunidade, para as
orações e as leituras dos textos bíblicos. Por ocasião da instrução, a fim de
transmitir à assembleia uma palavra de esperança e de consolo, o chefe da
sinagoga convidava, conforme costume antigo, um dos membros visitantes para
administrá-la. Assim, Jesus teve a oportunidade não só de realizar em Cafarnaum
suas primeiras curas, como também de falar muitas vezes à comunidade, porém, diferentemente
dos demais: Ele falava ao coração com palavras de poder e de sabedoria, que
anunciavam o Reino de Deus, acontecimento pelo qual Deus age e reina em nossa
história, início do tempo final escatológico. Cafarnaum tornou-se, deveras, um
campo (Caphar) de consolação (Naum) para seus habitantes, que “se extasiavam
com os seus ensinamentos, porque Jesus lhes ensinava com autoridade e não como
os escribas” (v.22). Presos às suas palavras, eles o reconheciam como mestre
qualificado para decidir importantes questões da vida e para exortar, com
firmeza e lucidez, sem fanatismo e tons patéticos.
No entanto, o que
mais os impactava era o modo livre de falar, sua liberdade em interpretar a Lei
e os profetas. Ele falava com autoridade (ecsousia)
irrestrita, não a partir das opiniões dos rabinos, nem das orientações de
Moisés ou de algum dos profetas. No dizer de S. Jerônimo, “Ele ensinava como Senhor,
não se apoiando em outra autoridade superior, mas a partir de si mesmo”.
Numa dessas
ocasiões, sua autoridade é confirmada pela cura de um endemoninhado, que gritava,
“dizendo: que queres conosco, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei
quem tu és: o Santo de Deus”. O embate com o Mal é descrito pelo Evangelista
como uma luta pela preservação da liberdade interior, dom concedido por Deus ao
homem, “que pode, no dizer de Orígenes, conduzi-lo ao cume do bem ou
precipitá-lo no abismo do mal”. A luta abrange o homem todo, seus desejos e
ações, o corpo e o espírito.
A mensagem de Jesus manifesta a realeza de Deus, e o reconhecimento de
que Ele é bom para o ser humano: traz-lhe paz e felicidade. Assim, libertado do império do mal, o homem expressa
sua nova relação com Deus e, ao mesmo tempo, sua reintegração na comunidade dos
irmãos: o Reino de Deus não é um mero conceito; ele reflete a experiência da “bondade
de Deus e de seu amor pelo ser humano” (Tt 3,4). Pasmos, os membros da sinagoga
exclamam: “Um novo ensinamento com autoridade! Até mesmo aos espíritos impuros
dá ordens, e eles lhe obedecem! ”. Os milagres e a expulsão de demônios, embora
não sejam essenciais, colaboram para reforçar a mensagem central do Evangelho
de que Deus não abandonou o homem, mas assumiu, em Cristo, sua história e sua
vida. Ele lá está sempre de novo, sempre
inesgotável, em seu amor misericordioso para com a humanidade.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
Comentários
Postar um comentário