Reflexão do Evangelho – Domingo, 05 de março
Lc
4,1-11 - Tentação no deserto
A
história do desígnio de Deus oferece uma maravilhosa continuidade, desde o
tempo de Israel até o tempo da Igreja, passando pelo tempo de Jesus. Nele,
reencontramos os elementos do Antigo Testamento, reunidos, sintetizados e
transfigurados definitivamente. No entanto, toda a questão reside no fato de
conceber Cristo, que, longe de ser menos humano por ser plenamente divino,
assumiu nossa humanidade, que foi totalmente renovada.
No início de sua missão, guiado pelo Espírito
Santo, Jesus é conduzido ao deserto, espaço de recolhimento e de oração. Após
jejuar durante 40 dias, Ele enfrenta ilusões e pretensões de um futuro
prazeroso e tranquilo, apresentado pelo tentador como algo concreto e real. As
tentações, com belas imagens, encobrem a verdadeira intenção de desviá-lo do
cumprimento da vontade do Pai e, consequentemente, afastá-lo de sua missão
salvadora: são prenúncios das contradições, acusações e ataques que Ele iria
sofrer ao longo de sua vida pública, assim como Israel no deserto, por quarenta
anos, e Moisés, por quarenta dias, no alto do monte Sinai. Também nós, durante
quarenta dias, tempo da Quaresma, preparando-nos para celebrar a Páscoa do
Senhor: sua paixão, morte e ressurreição.
Daí se infere que a tentação não está
ligada diretamente à ideia do pecado, mas é uma provocação, que visa pôr Jesus à
prova. Na História bíblica, o exemplo típico é o de Abraão, testado em sua
confiança em Deus, antes de receber a promessa de “uma posteridade tão numerosa
como as estrelas do céu e quanto a areia que está na beira do mar” (Gn 22,17). Nesse
sentido, é significativo o teor das tentações de Jesus, sobretudo, a primeira e
a terceira, nas quais o tentador visa provar ser Ele o Filho de Deus, sugerindo-lhe
que mude a pedra em pão ou, na terceira, propondo-lhe atirar-se do alto do
pináculo para ser acolhido pelos anjos. A segunda tentação se realiza no alto
de uma montanha, donde se descortinam os reinos do mundo, insinuando a ideia de
um Messias político, em âmbito mundial.
Em sua resposta, Jesus reafirma ser Ele
o Filho de Deus, não por realizar milagres, muito menos por ostentar poder e
riquezas materiais, mas por sua obediência ao Pai, em quem Ele confia de modo
absoluto. Vencido, afastando-se, o tentador ouve uma voz, dizendo-lhe: Ele
saciará a fome espiritual de todos aqueles que partilharão o seu pão com os
famintos e pobres do mundo, e, no tempo oportuno, Ele se entregará nas mãos do
Pai, que o ressuscitará no terceiro dia. Então, vozes invisíveis entoaram um
hino triunfal, pois, em outra montanha, distante daquela, não há outro
pensamento, outro enlevo senão o das bem-aventuranças, do amor e da
misericórdia, riquezas incomparáveis, fonte de perdão e de salvação para todos
os corações humildes e simples.
Dom
Fernando Antônio Figueiredo, ofm
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