Reflexão do Evangelho – Domingo, 26 de março


Jo 9, 1- 41 - A cura do cego de nascença


                 O que seria pior, a cegueira física ou a cegueira moral e espiritual? Se a primeira nos impede de ver a luz do sol, a segunda fecha nossa mente e coração ao amor e à verdade de Deus. Jesus, encontrando-se com um cego de nascença, tem compaixão dele e, após colocar sobre seus olhos um pouco de lama, disse-lhe: “Vai lavar-te na piscina de Siloé”, que significa o Enviado. Por ser dia de sábado, os fariseus ficam escandalizados, chamam Jesus de pecador e negam a realidade do milagre. A propósito, recordamos que os fariseus buscavam, com zelo e obstinação, a santidade e a pureza de Israel, não admitindo infligir o dia de sábado, pois se consideravam os únicos intérpretes da Lei em suas profundas e básicas intenções. Por isso, radicalizaram-se e se fecharam num legalismo formalista, sem um conteúdo real. No final do relato do milagre, Jesus irá se voltar para eles e dizer: “Se fôsseis cegos não teríeis culpa; mas porque dizeis: Nós vemos! ’, vosso pecado permanece”. De fato, eles percorreram o caminho inverso do cego de nascença, que chega a ver Jesus, sensivelmente, enquanto eles não logram vê-lo, espiritualmente.
Indignados, os fariseus procuram desacreditar Jesus e, não querendo se dobrar à evidência do milagre realizado por Ele, vão aos pais daquele que antes era cego, para pressioná-los e forçá-los a desdizer a versão do filho. Porém, o próprio cego de nascença, homem reto e verdadeiro, de maneira simples e direta, repete-lhes o que acontecera: “Aquele homem chamado Jesus fez lama, aplicou-a nos meus olhos e me disse: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Fui, lavei-me e recobrei a vista”. Segundo o relato bíblico, ao invés de esmorecer, ele se fortalece gradativamente: se no início, ele o denomina um profeta ou enviado de Deus, no final, ele declara ser Jesus o Filho do Homem, verdadeira confissão de fé, que expressa seu testemunho e adesão a Ele.
         No desfecho do episódio, esboça-se o “julgamento” de cada um: a incredulidade dos fariseus ou a profissão de fé daquele que tinha sido cego. Este vê Jesus com seus olhos corporais, e o reconhece como o Messias Salvador; aqueles permanecem em sua cegueira espiritual, apegados ao sistema do qual se consideram donos, rejeitando tudo quanto questionava seu modo de viver e seu pretenso saber. O cego lhes era incômodo e os deixava confusos, ao afirmar: “Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não fosse de Deus, nada poderia fazer”. Impacientes e irritados, eles o expulsam. Porém, o cego, ao ser interpelado a respeito do Filho do Homem, exclama: “Quem é, para que eu acredite nele? ”. “Tu o estás vendo: é o que está falando contigo”, afirma-lhe Jesus. Então, prostrando-se diante dele, ele professa: “Creio Senhor! ”.


+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm


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