Reflexão do evangelho - Quinta-feira, 23 de março
Lc
11,14-23 - Jesus e Belzebu
O Evangelho é a notícia alegre da
salvação para todos os que “estão acordados” ou, em outras palavras, estão
vigilantes, aguardando a vinda do Reino de Deus. Nessa comunidade, na qual Deus
é reconhecido como um Pai de bondade, e a solidariedade e o amor são o cerne da
Lei, os milagres, realizados por Jesus, levam a crer nele como aquele que “veio
de Deus”; e esta é a compreensão de Nicodemos, do cego de nascença e de todos
os que reconhecem nele o Messias esperado. Mas para outros, os milagres
resultam de um poder que, estando além do controle deles, é humanamente
discutível. Neste sentido, numa interpretação hostil a Jesus, os escribas, descidos
de Jerusalém, dizem: “É por Belzebu, príncipe dos demônios, que Ele expulsa os
demônios”.
O título Belzebu liga-se a textos antigos
e designa o primeiro dentre os inimigos de Deus, aquele que está à frente e
governa as forças do mal. Em clima de polêmica com fariseus e escribas, Jesus é
apresentado como “o grande adversário”, o falso profeta, que levava o povo à
apostasia. Em contraste com os seus opositores, Jesus é descrito como revelador
de um amor não só criador, mas recriador, fonte de vida nova, mesmo para os que
o acusam e difamam, contanto que eles acolham a sua oferta de salvação. Daí o
fato de alguns o definirem como o derradeiro pregador da metanóia, conversão, dos tempos escatológicos.
Por
conseguinte, no presente relato, o tema central não é propriamente o milagre,
nem a luta entre a luz e as trevas, mas a chegada da salvação, aguardada para o
fim dos tempos: com Jesus, inicia-se o tempo de salvação, em que todos são
convocados para a observância da verdadeira “Lei de Deus”: o mandamento do
amor, no qual todos os povos serão reunidos numa só comunidade.
Em
seguida, segundo S. João Crisóstomo, “Jesus afirma que o fato de expulsar os
demônios, como acabara de fazer, é obra de um poder grandíssimo e sinal da
vinda do Reino de Deus”. Ele o faz ‘pelo dedo de Deus’, que quebra o poder do
reino do Mal e não deixa nada mais do que os despojos, isto é, as ovelhas
perdidas da casa de Israel, que também farão parte da única humanidade futura.
Essa
universalidade de Jesus, que compreende todos os povos, particularmente o povo
de Israel, é a revelação do verdadeiro rosto de Deus e o sentido positivo e
vital do “ser humano”. A eleição, anunciada a Abraão e à sua posteridade,
torna-se irrevogável; os que sentem em seus corações sua bondade, ternura e
misericórdia reconhecem ser Ele tão profunda e verdadeiramente humano, que exclamam,
com o centurião, ao pé da cruz: “De fato, este era Filho de Deus”.
+Dom
Fernando Antônio Figueiredo, ofm
DEUS lhe abençoe e lhe ilumine. Obrigado p/ reflexão D. Fernando.
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