Reflexão do Evangelho – Domingo, 12 de março


Mt 17,1-9 - Transfiguração do Senhor
       
       
        A fonte de inspiração e a referência essencial da vida cristã é a nossa solidariedade com Jesus, pois, pela sua Encarnação, nossa vida, morte, dor, sofrimento estão incluídos em sua obra redentora. Sua ressurreição, podemos dizer, é a vitória definitiva do primeiro de todos os homens; é a luz que ilumina não só o nosso futuro, mas também o momento presente como atesta a Transfiguração, evidência e certeza na fé de que o homem, caído em Adão, reergue-se em Jesus e participa, desde já, da vida feliz e eterna em Deus.  
No alto da montanha, contemplando a face do Cristo transfigurado, os Apóstolos sentem-se inebriados, e, pasmos, desejam perpetuar aquele momento: “Façamos três tendas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”.  Emocionados, eles partilham da glória de Cristo, vendo-o falar com Moisés, o grande legislador de Israel, e com Elias, o maior dos profetas. Longe de se evaporar na glória celeste, a humanidade de Jesus permite-lhes contemplar a luz eterna de sua divindade e compreender que, em sua vitória, eles já participam, misteriosamente, de sua transfiguração. No Messias humilhado e sofredor da cruz, eles serão tocados pelo Filho do Homem, que os conduzirá ao coração misericordioso do Pai; agora, transfigurado, sua face reflete o fascínio irresistível daquele que cria ao seu redor uma atmosfera de paz, de amor e de alegria, levando Pedro a exclamar: “Rabi, é bom estarmos aqui”.
Através da abertura do mistério, os Apóstolos entreveem o Filho de Deus na face humana de Jesus e, na treva mais que luminosa do silêncio, sentem-se arrebatados e completamente maravilhados: realização do desígnio originário de Deus, que os envolve, integralmente, corpo, alma e espírito. S. Gregório Palamas dirá: “Se o corpo deve tomar parte, com a alma, dos bens inefáveis, no século futuro, é certo que também deles deve participar, na medida do possível, desde esta vida”.
 Por conseguinte, a Transfiguração de Jesus assegura-nos que, graças à misericórdia divina, teremos também, na medida de nossa fé e de nossas obras, de nossa esperança e de nossa caridade, um corpo transfigurado semelhante ao do Senhor. Lá, no alto do monte Tabor, engalanado de luz, Jesus prenuncia o início da verdadeira nova criação de Deus, que desponta e madura dentro da vida do homem mortal: trata-se do corpo transfigurado, livre dos incômodos terrestres e participante da glória de Deus, na expectativa da segunda vinda do Senhor, que marcará o triunfo visível de Deus. Com a ressurreição final, a morte, sem deixar de ser um fator da vida humana, não dominará mais o homem em seu destino final, pois “assim como todos morreram em Adão, todos reviverão em Cristo” (1Cor 15,22).


Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm


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