Reflexão do Evangelho - Sexta-feira, 03 de março


Mt 9,14-15 - Discurso sobre o jejum

                
           Apesar de os profetas terem insistido menos sobre a severidade do jejum e muito mais sobre a conduta justa e caritativa para com o próximo, os discípulos de João Batista e os fariseus multiplicavam jejuns e orações. A voz dos profetas tem sua plena realização em Jesus, em quem tudo se renova e adquire novas qualidades, “pois dele, por Ele e para Ele são todas as coisas” (Rm 11,36). Nesse sentido, deixando para trás toda tendência à vitimização ou à teatralização, o jejum, gesto religioso, significa essa renovação do homem e do mundo, preparando-nos para acolher, de modo incondicional, o Reino de Deus, que não é só iminente, mas já “está entre nós”.   
            Para uma melhor compreensão, Jesus diz ser o “noivo” das núpcias de Deus com o seu povo, e os discípulos, os amigos do noivo. Por isso, aos que criticam os Apóstolos por não jejuarem, Jesus, com certa ironia, pergunta-lhes: “Podem os amigos do noivo jejuar enquanto o noivo está com eles? ”. S. Hilário de Poitiers conclui que “o fato de eles não jejuarem demonstra a alegria dos discípulos com a presença de Jesus. Nesse período, não se há de jejuar, porque o Esposo está lá e com Ele o tempo messiânico, tempo de núpcias, de abundância e de alegria”.
No entanto, uma observação feita por Jesus não passa despercebida: “Quando o Esposo lhes for tirado, eles jejuarão”. Ou, no dizer de S. Basílio Magno: “Eles então jejuarão, pois suas vidas estarão orientadas para as realidades, que ultrapassam os bens simplesmente materiais e carnais”. Não só, mas pela prática do jejum, os discípulos estarão proclamando, em seu corpo particularizado, isto é, em sua individualidade, a participação deles no corpo transfigurado de Jesus.  
   O tempo em que vivemos é um tempo messiânico, início de nossa transfiguração, resposta ao desejo de continuidade do ser humano em sua totalidade, corpo e alma. Daí o fato de S. Agostinho recordar a uma irmã, que se sentia desconsolada pela morte de seu irmão: “O amor de teu irmão não pereceu, pois ele te amou e ele te ama; ele permanece conservado em teu tesouro e escondido com Cristo no Senhor”. Para concluir, um pouco adiante, ele diz: “Nós não perdemos os que emigraram desta vida antes de nós: nós os enviamos à outra vida onde nós nos reencontraremos, e onde eles serão ainda mais caros a nós do que são intimamente conhecidos”.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm



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