Reflexão do Evangelho – Sábado, 11 de março
Mt
5, 43-48 - Amor aos inimigos
Oculto
em sua humanidade, o Filho de Deus se dá a conhecer como a “suprema epifania”
do incomensurável amor de Deus, demonstrado em sua bondade para com o povo. Seus
seguidores, incluídos em sua vida humano-divina, hão de viver essa mesma
inspiração no amor a Deus, manifestado em amor ao próximo e em serviço. Projeto
da liberdade, o amor compreende, em seu aspecto humano, a afetividade (éros), força natural para o bem, e o
amor de Deus, comunicado a nós como dom divino: amor-doação (ágape) do próximo e, mesmo, dos
inimigos. Assim, quem deseja seguir Jesus não poderá pôr limites em seu amor. A
exigência de amor é a praxe dos “filhos de Deus”, que superam as fronteiras de
raça e de preconceitos, e tornam, quer o éros,
força presente no coração humano, quer o amor divino (ágape), conaturais à sua condição humana.
Por
isso, sem qualquer receio, os primeiros cristãos proclamam a total
compatibilidade de ambos, colocando-os no interior do mistério da salvação. Embora
acentuem a unidade do amor presente na criação e na história da salvação, eles não
deixam de assinalar a possível degeneração do éros em práticas religiosas ou cultos idolátricos, sem deixar, é
óbvio, de propor a sua purificação. Nesse sentido, grande é o mérito de
Orígenes, que destaca, na interpretação do Cântico dos Cânticos, a acepção
mística e espiritual da afetividade humana (éros),
ao estabelecer as relações Logos-alma, Cristo-Igreja. Para o pseudo Dionísio, o
amor, em sua unidade, é fonte de realização e felicidade, pois “o que é Belo e
Bom é desejável (erastón), apetecível
e amável (agapetón) ”.
Na dinâmica do amor, reconhecemos o “próximo”
no outro, melhor, nós nos colocamos na condição de fazer-nos “próximo” dos
outros, e estabelecemos verdadeira comunhão, seja com os membros da família ou da
própria raça, seja com todos os homens, mesmo com os próprios inimigos: para
Jesus não há inimigo que Ele não ame. O próximo só existe quando nos dispomos a
ajudar e a auxiliar o outro, aproximando-nos dele para fazer o bem ou,
simplesmente, para nos comunicarmos com ele. Assim, para além da fé e da
esperança, que hão de passar, somos introduzidos na esfera espiritual do amor
divino, impregnado de respeito e de afeto desinteressado. O amor-relação, que
tudo atrai e tudo une, leva a viver as palavras de Jesus: “Amai-vos uns
aos outros assim como eu vos amei”. Assim, graças ao amor, participamos da
própria unidade de Deus e viveremos em comunhão com todas as criaturas: no
dizer de S. Atanásio, seremos “divinizados”.
DEUS lhe abençoe e lhe ilumine. Obrigado p/ reflexão D. Fernando.
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