Reflexão do Evangelho de Jo 1, 47-51 - Encontro com Natanael - Segunda-feira 29 de Setembro
Reflexão do
Evangelho de Jo 1, 47-51 - Encontro com Natanael
Segunda-feira 29 de
Setembro
Natanael é considerado por Jesus como um
verdadeiro israelita, um homem “sem duplicidade”, em quem “não há artifícios”.
Ele não é uma pessoa entregue ao fingimento e à mentira. Ao expressar a pureza de coração e o dom sem
reserva de Natanael, Jesus nos recorda o mandamento de “amar a Deus, sem
reserva, de todo o coração”. O contrário seria ter um “coração duplo” ou não
ser alguém inteiramente de Deus, porque alimentar a duplicidade em seu agir
implica estar em desobediência a Deus.
A saudação a Natanael reflete o conhecimento
profético de Jesus: “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento”.
Surpreso, Natanael pergunta: “De onde me conheces?” Buscando tranquilizá-lo,
Jesus lhe diz: “Antes que Felipe te chamasse, quando estavas sob a figueira, eu
te vi”. Pasmo, Natanael se prostra, exclamando: “Rabi, tu és o Filho de Deus,
és o Rei de Israel”.
Jesus podia estar
se referindo à árvore do paraíso ou à árvore dos idosos julgados por Daniel. Os
livros históricos indicavam o repouso “sob a vinha ou a figueira”, imagem da
paz, de acordo com a interpretação feita pelos profetas. Por outro lado,
segundo a tradição rabínica, interpretação mais comum na época, ao falar de
estar sob uma árvore, Jesus estaria sugerindo a ideia de que Natanael estivesse
lendo as Escrituras, fonte do conhecimento sagrado e do anúncio do Messias.
O diálogo com
Natanael oferece-nos um belo exemplo da pedagogia de Jesus para promover o crescimento
na fé daquele que procura Deus. Se no início, Natanael possui um conhecimento
imperfeito e interessado a respeito do Messias, rei de Israel, agora, no
encontro com Jesus, ele reconhece estar diante do Messias e passa a professar a
fé no Filho do Homem, que haverá de abrir as portas do céu para toda a
humanidade. S. João Crisóstomo declara que Natanael interroga como homem e
Jesus responde como Deus: “Eu te vi sob a figueira”. Jesus já o conhecia, não
como um homem que observa, mas sim como Deus que tudo conhece. Ao ouvi-lo, Natanael
reconhece o sinal indubitável e profético do Messias, e confessa: “Tu és o
Filho de Deus, tu és aquele que esperamos”. Então, Natanael “decola” para
participar da grandeza da revelação de Deus a Israel, povo no qual Ele faz a sua
morada.
A narração do
encontro encerra-se com as palavras de Jesus: “Vereis o céu aberto e os anjos
de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. O Mestre alarga os
horizontes espirituais de Natanael pois, no dizer de S. João Crisóstomo, “não
há nada mais importante do que as realidades do céu. Nada deve distanciar a
nossa atenção da expectativa do reino de Deus”. Nesse mesmo sentido, S. Cirilo
de Alexandria diz que “com essa alusão aos anjos de Deus, o Senhor nos convoca
a passar das realidades passageiras às eternas, das terrenas às celestes, das
carnais às espirituais”. Nada terreno pode satisfazer-nos ou definir-nos. Como
Natanael, somos convocados a nos ultrapassarmos constantemente, a voltarmos
nossos olhos para o alto.
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, o.f.m.
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