Reflexão do Evangelho de Mt 20, 1-16 - Parábola dos trabalhadores da vinha - Domingo 21 de Setembro



Reflexão do Evangelho de Mt 20, 1-16 - Parábola dos trabalhadores da vinha
Domingo 21 de Setembro    
      
       Logo no início da parábola dos trabalhadores da vinha, Jesus compara o Reino dos Céus com o vinhateiro, que paga seus trabalhadores com generosidade. A vinha de Deus é Israel, povo por Ele escolhido, multiplicado, transferido para a Terra Prometida e por Ele protegido. O vinhateiro sai em diferentes horas do dia para contratar operários, o que simboliza a história da humanidade em seus múltiplos períodos. Ao fim da jornada de trabalho, a atitude do vinhateiro é a tradução da misericórdia de Deus, como comenta São Cirilo de Alexandria: “É dada a mesma importância em pagamento pelo trabalho realizado”. Não importa o tempo empregado. A paga ou a recompensa é “a graça do Espírito Santo”. Em seu amor, Jesus nos introduz, de modo simples e penetrante, na extraordinária generosidade e compaixão de Deus por todas as pessoas, de todos os tempos.
       Pela leitura da parábola, é fácil deduzir que a falta de trabalho significa não ter alimento à mesa familiar. Daí a compaixão do dono da vinha. Caso contrário, os trabalhadores voltariam para casa sem o necessário para o sustento de sua família. Porém, examinando o relato sob o ângulo da justiça, torna-se compreensível a reação dos que chegaram à primeira hora e trabalharam mais do que os outros. Parece-nos natural que eles se sintam lesados ou injustiçados. Mas, talvez, o maior motivo da revolta seja a não aceitação dos direitos e privilégios daqueles que chegaram à última hora. A parábola procura exatamente destacar este aspecto para realçar a inveja, pois ela faz ter, no dizer de Jesus, “o olho mau”.
       A intenção da mensagem transmitida pelo Senhor é levar os da primeira hora, o povo judeu, à compreensão do mistério da salvação, dádiva que Deus, em sua inefável generosidade, está sempre disposto a conceder a todos. No entanto, os fariseus julgam a salvação como privilégio deles, não desejando partilhá-la com outros. Eles estabeleciam uma equivalência rigorosa entre a observância da Lei mosaica e a retribuição divina. Jesus, ao contrário, mostra que a relação entre Deus e os homens se estabelece pelo amor, e não pelo mérito do cumprimento da Lei. A liberdade de Cristo, em seu relacionamento com os pecadores e pagãos, tornou-se chocante e inadmissível aos olhos dos fariseus e esse foi um dos motivos que o levou à crucificação.
       Santo Agostinho compara os trabalhadores da última hora aos mendigos, aos fracos, aos coxos e aos cegos, mas faz a ressalva: “Venham os fracos porque os sãos não necessitam de médico, mas sim os enfermos”. Jesus ressuscitado comunica a todos uma nova vida. A árvore da cruz de Cristo tornou-se a árvore da vida, ligando a Terra ao Paraíso e unindo todos os povos e nações. Um símbolo do poder de Deus, que rompe todos os limites, que abate todas as barreiras e nos torna participantes da vida divina. Por Jesus, somos mergulhados em um oceano de luz e de silêncio. A ternura divina revela-se nos abismos do seu mistério. Nosso coração sente-se embriagado pelo seu amor e nós, admirados, contemplamos sua sabedoria, que se eleva da Terra ao Céu. Radicalmente transcendente, sua generosidade penetra o mundo inteligível e o sensível, transfigurando-os e unindo-os. Não há espaço para exclusão. Todos são chamados a ser filhos e filhas amados de Deus. Todos são convocados a viver como irmãos e irmãs, trabalhando na mesma vinha - o mundo -, recebendo o mesmo salário: a salvação eterna. 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.

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