Reflexão do Evangelho de Lc 9, 57-62 - Exigências da vocação apostólica - Quarta-feira 01 de Outubro

Reflexão do Evangelho de Lc 9, 57-62 - Exigências da vocação apostólica
Quarta-feira 01 de Outubro
      
Fascinados, muitos ouviam Jesus falar do triunfo de Deus sobre o reino das trevas, do pecado e do mal. Inclusive, os fariseus e os escribas, que com grande respeito o chamavam de Rabi, Mestre. Criou-se assim ao seu redor um clima de alegria e de amor. Impressionava-os seu modo compassivo e misericordioso para com os fracos e pecadores, e o rigor exigido dos discípulos e seguidores. A estes, Ele lançava um forte apelo para livrá-los do comodismo e levá-los a acolher o poder misericordioso de Deus. Mas com os hipócritas e vendilhões do Templo, Ele era duro e, por vezes, até irônico: “Coam um mosquito e engolem um camelo”. Porém, a simplicidade e a serenidade não o abandonavam o que permite Goethe dizer: “Todos os quatro Evangelhos transmitem um reflexo daquela grandeza espiritual, cuja fonte foi a própria pessoa do Cristo, ápice espiritual mais divino do que qualquer outra coisa no mundo”.
 Certa feita, um dos discípulos, que lhe pede para primeiro enterrar seu pai, é surpreendido com as palavras: “segue-me e deixa que os mortos enterrem os seus mortos”. Seu intuito é transmitir aos ouvintes o conteúdo principal da sua mensagem, que pressupõe não desprezo aos parentes, mas ter, em meio às adversidades, os olhos voltados para o alto. Observa S. João Crisóstomo: “Cristo faz tal proibição não para que rejeitemos a honra devida a quem nos gerou, mas para indicar que não há nada mais importante para nós do que as realidades do céu. Por elas devemos nos interessar, com todo o fervor e empenho, sem afastar-nos delas um só instante, ainda que sejam graves e urgentes os motivos que nos levam a estar distantes de Jesus”.
Por conseguinte, a proposta de Jesus é que os discípulos participem de sua vida simples, pobre e humilde, e tenham a convicção de que seus ensinamentos não são puros conceitos e ideias, mas expressam e consolidam o encontro deles com o Pai. Indica-lhes um itinerário a ser seguido: das realidades transitórias e terrenas às realidades eternas e espirituais. Verdadeiro programa de vida, que evidencia a necessidade de trilhar o caminho da renúncia, sem a qual jamais se poderá alcançar a libertação das paixões desordenadas e a liberdade diante dos bens materiais. Calam-se, no interior do coração deles, as vozes do pecado e do mal, e eles ouvem, no silêncio do amor, a voz do Mestre, guiando-os à união com o Pai celestial.  Orígenes coloca nos lábios de Jesus a recomendação: “Mortificai o que em vós atrai para a terra, lançai de vós toda ligação com a corrupção da carne, todo mal”. Livre e sereno, o discípulo entende ou intui que a misericórdia, presente em Jesus, é a única força capaz de vencer o pecado e os ídolos do mal.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.

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