Reflexão do Evangelho de Lc 5, 33-39 - Discurso sobre o jejum - Sexta-feira 05 de Setembro
Reflexão
do Evangelho de Lc 5, 33-39 - Discurso sobre o jejum
Sexta-feira
05 de Setembro
Os discípulos de
João Batista e os fariseus multiplicavam jejuns e orações, apesar de os
profetas terem insistido menos
sobre a severidade do jejum e muito mais sobre a conduta justa e caritativa
para com o próximo. Em Jesus a voz dos profetas se plenifica. Embora jejue por
quarenta dias, Jesus sugere uma mudança, senão um novo relacionamento com Deus
e com o mundo. Para Ele, a prática do jejum compreende atos e atitudes que,
acompanhados pela oração, servem para traduzir a humildade, o amor e a
esperança. Na realidade, o jejum é considerado por Ele como um gesto religioso,
que assinala a intenção real de acolher a presença de Deus em sua vida e de se
pôr diante dele. Por isso, justamente por causa da presença física do Senhor entre
eles, os discípulos não jejuam, embora Ele não deixe de insistir no desapego
das riquezas (Mt 19,21) e em renunciar-se a si mesmo para levar a cruz (Mt
10,38s).
Para melhor
ser compreendido, Jesus se apresenta como o “noivo” das núpcias de Deus com o
seu povo, e os discípulos são descritos como os amigos do noivo. Aos que
criticam os Apóstolos por não jejuarem, com certa ironia, Ele pergunta-lhes: “Podem
os amigos do noivo jejuar enquanto o noivo está com eles?” S. Hilário de
Poitiers conclui que “o fato de eles não jejuarem demonstra a alegria dos
discípulos com a presença de Jesus. Nesse período, não se há de jejuar, porque
o Esposo está lá e com Ele o tempo messiânico, tempo de núpcias, de abundância
e de alegria”. Porém, não lhes escapa a observação do Senhor: “Mas quando Ele
lhes for tirado”, indicando-lhes o tempo após a sua morte, então eles jejuarão
“para proclamar, como destaca S. Basílio Magno, que suas vidas estão orientadas
para as realidades que ultrapassam os bens simplesmente materiais e carnais” ou
como proclama o prefácio da Quaresma: “Pelo jejum elevais os vossos sentimentos”.
Seus olhares estarão então voltados à contemplação de Deus, mas sem deixarem de
saciar uma fome diferente, a fome da bondade e da misericórdia, do perdão e do
amor.
Nesse
sentido, Orígenes nos remete à profundidade de nossa alma, “lá onde se encontra
a imagem de Deus escondida. Pelo jejum, cabe-nos liberá-la da terra e purificá-la
de toda sujeira para encontrar a água viva, aquela água da qual diz o Senhor: ‘Quem
crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água viva’” (Jo 7,38). Ao abade Pambo,
que lhe perguntava: “O que eu devo fazer? o abade Antônio lhe disse: Não
confies na tua justiça, não te aflijas com o passado, põe freio à tua língua e
ao teu ventre!”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.
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