Reflexão do Evangelho de Lc 6, 27-38 - Amor aos inimigos - Quinta-feira 11 de Setembro
Reflexão
do Evangelho de Lc 6, 27-38 - Amor aos inimigos
Quinta-feira
11 de Setembro
Oculto
em sua humanidade, o Filho de Deus não só se dá a conhecer como “suprema
epifania” do amor incomensurável de Deus, mas também nos inclui em sua vida
humano-divina. Nele, amamos a Deus e no mesmo amor, concedido a nós por Ele, amamos
o próximo. Eis a chave da esperança, com a qual abrimos a porta do nosso
coração para entrever o novo horizonte do povo de Israel, renovado por Jesus. Sem
negar a afetividade (éros), força natural para o bem, vive-se o amor-doação
(ágape), que confere asas à alma e a eleva à beleza da felicidade eterna. Com
efeito, a comunhão em Deus, além de superar todas as fronteiras de raça e de
preconceitos, torna o éros, força presente no coração humano, e o amor divino
(ágape), conaturais à condição humana.
Por isso, sem qualquer receio, os
primeiros cristãos proclamam a total compatibilidade do eros e do ágape,
colocando-os no interior do mistério da salvação. Em outras palavras, embora não
deixem de assinalar a degeneração do eros em práticas religiosas ou cultos
idolátricos, não para negá-lo, mas para propor a sua purificação, eles acentuam
a unidade do amor presente na criação e na história da salvação. Nesse sentido,
grande foi o mérito de Orígenes, que destaca, na interpretação do Cântico dos
Cânticos, a acepção mística e espiritual do eros, ao estabelecer as relações
Logos-alma, Cristo-Igreja. A mesma unidade encontra-se no Pseudo Dionísio
Areopagita, ao referir-se à Bondade e à Beleza: “O que é Belo e Bom, diz ele, é
desejável (erastón), apetecível e amável (agapetón)”.
A
visão unitária do amor postula a comunhão não só com os membros da família ou da
própria raça, mas também com todos os homens, mesmo, com os próprios inimigos. Para
além da fé e da esperança, o amor, qual fogo do céu, reduz às cinzas o pecado e
transporta o homem ao sabor espiritual do ágape divino: amor não possessivo, mas
impregnado de respeito e de afeto desinteressado. Realizam-se então as palavras
de Jesus: “amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”. Caso alguém
julgasse ser impossível, do ponto de vista meramente humano, efetivar
semelhante amor, julgando-o inacessível, diríamos: o amor não provém apenas do
alto, sem vínculos com a realidade humana, pois o eros, amor do homem ao bem e
à beleza não se separa do ágape, do amor de Deus, que é o nosso Criador.
Por
consequência, no amor a Deus acolhemos o próximo, não nos prendendo ao mal que
ele nos faz, mas orando para que ele se afaste do mau presente em sua vida, prejudicando-o
e afastando-o de Deus.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.
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