Reflexão do Evangelho de quarta-feira 18 de maio e quinta-feira 19 de maio



Reflexão do Evangelho de quarta-feira 18 de maio e quinta-feira 19 de maio
Mc 9, 38-40, 41-50 - O uso do nome de Jesus e o escândalo a ser evitado

      
       Jesus apresenta-se como alguém que tem uma história, planos, sentimentos, um “Eu”, responsável por si mesmo, pelos seus atos e palavras. Ao longo do Evangelho, Ele se define em sua relação com o Pai, numa atitude única, como o Filho Unigênito de Deus, no qual, por participação, nos tornamos filhos amados do Pai. Assim como Deus, no monte Sinai, designou-se com um nome próprio e irredutível: “Eu sou aquele que sou”, também o nome “Jesus” é pronunciado pelos primeiros cristãos, com todo respeito, porque revela sua relação filial com o Pai, fundamento de sua divindade. Nele, os discípulos se sentem autenticamente livres e participantes de sua Senhoria, no cuidado e respeito com a natureza, nossa casa comum.
       Os discípulos não podem pensar sua ação evangelizadora sem Jesus Cristo. Por isso, perguntam-se: “Seria possível alguém, não ligado a eles, assenhorar-se do ministério ou da ação salvadora de Jesus? ”. Daí a observação feita pelo Apóstolo S. João: “Mestre, vimos alguém que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia”. Ora, a ação evangelizadora dos discípulos visa transformar os pecadores em “novas criaturas” e antecipar a transfiguração do mundo, fim último da ação criadora de Deus. Por isso, ao ouvir João, no intuito de instruí-los e de alargar seus horizontes, Jesus afirma estarem eles investidos de uma missão, que ultrapassa os limites da história bíblica e que se estende por toda a história e por todo o mundo. Sua Palavra é abertura ao novo, que, irrompendo constantemente na história, instaura o Reino de Deus em todos os corações.    
Nesse sentido, à diferença dos escribas e fariseus, intransigentes, Jesus lhes recomenda uma atitude bondosa e mais tolerante. S. Clemente de Roma, no século II, dirá que a História da Salvação, que é regida pelas leis da doçura, da paz e da humildade, abarca não só judeus e cristãos, mas também os pagãos. S. Agostinho sintetiza essa recomendação do Senhor, dizendo: “Como existe na Católica o que não é católico, assim também pode haver algo católico, fora da Católica”.
        A seguir, o Evangelho insiste sobre a gravidade do escândalo, exortando os discípulos para que não o ocasionem. Com voz áspera e severa, fato que nos impressiona, Jesus os adverte: “Seria melhor para quem é causa de escândalo atar no pescoço uma grande pedra de moinho e lançar-se ao mar”. Sentindo-se também sensibilizado por esta exortação, exclama S. Agostinho: “Jesus não se envergonhou de repetir três vezes as mesmas palavras. Quem não tremeria diante desta repetição e desta ameaça, saída com tal rigor da boca divina? ”.
Por conseguinte, urge evitar o escândalo, pois para ser seguidor do Mestre, é preciso nutrir forte afeto por todas as criaturas e reconhecer que, aos olhos de Deus, o valor de cada pessoa é inestimável. O ser humano é verdadeiramente ele mesmo, na medida em que ele se reconhece imagem de Deus, não só em seu aspecto espiritual, mas na totalidade de sua pessoa, alma e corpo. Daí a importância de respeitarmos cada pessoa, que na visão de S. Paulo é espírito (pneuma), alma (psiqué) e corpo (soma), e nos amarmos uns aos outros, pois “além de sua natureza, há um aspecto pessoal, como expressa, com convicção, S. Máximo, o Confessor, que representa sua unidade interior e sua relação com Deus”. Enfim, numa linguagem bíblica, estabeleçamos uma “aliança de sal”, ou seja, uma aliança perpétua, selada pela amizade com Deus e com nossos semelhantes.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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