Reflexão do Evangelho de quarta-feira 08 de junho



Reflexão do Evangelho de quarta-feira 08 de junho
Mt 5, 17-19 - Cumprimento da Lei
      

       Jesus acaba de falar das “boas obras” e da obediência ao Pai. Para os fariseus, a frutuosa resposta à vontade do Pai seria o cumprimento da Lei entregue a Moisés no Sinai. Mas eles exacerbavam a submissão à Lei, de tal modo que a liberdade, sem vínculos significativos e espirituais, assumia feições de escravidão. Para o Senhor, ao contrário, o pressuposto é a ação livre, base da responsabilidade pessoal e exclusão do determinismo no agir. Por isso, de modo solene, “em verdade vos digo”, Jesus expõe seu posicionamento em relação à Lei, aos Profetas e, por conseguinte, em relação a todo o Antigo Testamento.
       O Senhor esclarece a questão da Lei e da liberdade. Embora sustente a liberdade, que em sentido estrito engloba o sacrifício da própria vida, Ele evita a suposição de que, vindo em nome do Pai para cumprir uma missão, Ele estaria ab-rogando a Lei. Entrementes, sem deixar de alertar os discípulos sobre o risco de se deixarem levar por uma compreensão rigorosa e casuística da Lei, Ele os acautela também contra o extremo oposto: julgarem-se dispensados dela. Para além da “letra”, ela é confirmada, melhor, transformada e interiorizada em seu conteúdo; a crítica é contra a interpretação e a prática da Lei entre os fariseus. Pode-se, então, afirmar que o conteúdo ou o ensinamento, que tinha sido convertido em normas e prescrições ritualísticas por eles e pelos escribas, é resgatado e escrito pelo Messias, como predizia Jeremias, nos corações dos seus seguidores.
Nele, tanto a Lei como os Profetas atingem sua realização plena, a mais perfeita, como assinala S. Hilário de Poitiers ao dizer: “Ele proclama, de modo claro e vigoroso, que a obra da Lei é superada. Ele não a abole, mas a supera com um aperfeiçoamento progressivo. Nesse sentido, Jesus declara que os Apóstolos só entrarão no Reino dos Céus caso superem a justiça dos fariseus. E, após expor as prescrições da Lei, Ele as supera aperfeiçoando-as, sem aboli-las”. O cerne da Lei é a justiça e o amor de Deus, que, quando não observados, tornam as demais prescrições pura hipocrisia.
No entanto, o véu, que encobre a visão interior dos Apóstolos, só será retirado no monte Tabor, quando eles, maravilhados, contemplarão a glória do Filho de Deus e tornar-se-ão partícipes da luz divina. Então, reconhecerão que a Lei, provinda de Deus, luz para os povos, tem sua realização perfeita na obra e nos ensinamentos de Jesus, em quem se consuma a entrada definitiva do Povo de Deus na Terra prometida: é a plena comunhão ou a genuína aliança selada entre Deus e a humanidade, expressa na verdadeira nova criação de Deus, o novo céu e a nova terra.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM


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