Reflexão do Evangelho de quinta-feira 16 de junho
Reflexão
do Evangelho de quinta-feira 16 de junho
Mt 6,
7-15 - A oração do Pai-Nosso
No
tempo de Jesus, a palavra “Pai” não se encontra em nenhuma oração dirigida a
Deus. No entanto, nos Evangelhos, por doze vezes, sem contar os textos
paralelos, Jesus se dirige, em sua oração, “ao Pai”, com quem Ele se relaciona de
modo natural e simples. Essa atitude de Jesus, que expressa uma profunda
experiência religiosa de intimidade com Deus, ficou gravada no coração de seus
discípulos, que assumiram também para si o “Pai-Nosso”, como fórmula de oração.
Intimidade que não se restringe à oração; estende-se à sua mensagem, atividades
e até ao seu modo de falar, provocando espanto aos ouvintes, já escandalizados
pela autoridade com que Ele falava da vinda do Reino de Deus como salvação para
a humanidade.
A
oração do Pai-Nosso se inscreve no âmbito da cotidianidade da vida cristã, conforme
recomendação da “Didaqué ou Doutrina dos Doze Apóstolos” (dos anos 60-80 d.C.),
dada pouco antes de transcrever o Pai-Nosso: “Assim orareis três vezes ao dia”.
Aos que se preparavam para o batismo, os catecúmenos, ela é entregue
solenemente, suscitando belíssimos comentários em muitos Padres, entre os quais
Tertuliano, S. Cirilo de Jerusalém, S. Agostinho e S. Pedro Crisólogo. Assim, em
seu comentário sobre o Pai-Nosso, S. Cipriano lembra que ao se dizer:
“Santificado seja o vosso nome”, não estamos santificando o Senhor com nossas
orações, “mas estamos pedindo a Ele que o seu nome seja santificado em nós”.
“Venha
a nós o vosso reino”: esta talvez seja a súplica mais importante feita pelos
primeiros cristãos, que experimentavam a presença de Jesus, agindo na história
para o seu bem, e também já aguardavam a sua vinda final, quando então Ele iria
estabelecer definitivamente seu reino de paz e de felicidade. Dessa maneira, o
Pai-nosso é a força que mantém em coesão a comunidade dos discípulos, que,
voltados para Deus, abrem o coração ao seu incondicional amor por todas as
criaturas; é a energia espiritual que leva cada um deles à comunhão é à doação
mútua, permitindo-lhe dizer, não “meu” Pai, mas “nosso” Pai, a quem ele pede o
pão “nosso” de cada dia. O perdão, a ele concedido, é vivido no perdão aos seus
semelhantes, que efetiva, em seu coração, a bondade de Jesus, sinal de sua
misericórdia. Consequentemente, ser cristão é ser “misericordioso, como o Pai
celeste é misericordioso”: no perdão do Filho Jesus, ele é recriado, torna-se
nova criatura, e é “luz do mundo”, no despontar de um novo céu e de uma nova
terra. Na oração do Pai-Nosso, o discípulo abandona o egoísmo e se abre à
comunhão com os irmãos, e cuida da criação, com respeito e amor desinteressado.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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