Reflexão do evangelho de sexta-feira 17 de junho



Reflexão do evangelho de sexta-feira 17 de junho
Mt 6, 19-23 - O verdadeiro tesouro


       O Reino de Deus não significa um território determinado acima ou fora deste mundo, onde Deus teria sua morada. Ele é essencialmente um acontecimento, pelo qual Deus age em nossa história e se comunica a nós como Senhor e Rei. Absolutamente superior a tudo o que é transitório, o Reino se realiza em nós na pessoa de Jesus, na medida em que participamos de sua filiação divina. Sem se constituir um reino particular em meio a uma série de outros do mesmo gênero, ele é o próprio poder divino, que penetra a tessitura de nossa vida, agindo para o nosso bem, como sinal vivo de um Reino do qual se pode dizer, desde o início: ele não é “deste mundo”. Nele, manifesta-se a realeza do “Deus do céu e da terra”, não no sentido de um deus distante ou ocioso, mas total e imediatamente presente, presente e ativo. Assim, o pedido: “Venha teu Reino”, refere-se tanto ao hoje da presença salvadora de Deus, como também ao estado final e definitivo de felicidade eterna, de maneira que as pessoas, mesmo deformadas pelo pecado e penetradas pela malícia, sentem atração por ele, assim como o Povo de Israel pela Terra Prometida. 
       Todavia, por conhecer o que se passa no coração humano, Jesus estabelece uma alternativa, não entre pobreza e riqueza, mas entre plenitude terrestre e temporária e plenitude celeste e eterna. De um lado, o falso tesouro ou a avareza, estéril e de antemão condenada por uma morte inevitável; de outro, a generosidade que distribui aos mais pobres, o que lhe é concedido pela liberalidade do Criador e da natureza. Nesse sentido, declara Clemente de Alexandria: “Os ricos se salvam, restituindo a Deus, na pessoa de seus irmãos, as riquezas que lhes advêm de Deus”.
Por conseguinte, o reinado de Deus proporciona salvação e liberdade aos que foram criados para a vida; e o verdadeiro tesouro consiste nas bênçãos de uma relação sincera com Deus e com os irmãos, quaisquer que sejam as diferenças aparentes. Embora o Reino de Deus se revele ao longo da história como uma realidade da vida presente, sua plena realização se dará no fim dos tempos como salvação universal, trazendo paz e felicidade para a humanidade. Porém, ao falar do Reino de Deus “que vem”, Jesus indica que não há um término, pois ao ser humano não é permitido acomodação ou estagnação: o Reino sobrevém a cada instante “num espaço e transparência de luz”. Então, o verdadeiro tesouro será incomensurável. Não se limitará a um salário pelas boas ações, mas resultará de uma herança imperecível: a presença libertadora de Deus “com todas as suas riquezas” (Mestre Eckhart).

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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