Reflexão do Evangelho de sexta-feira 10 de Junho
Reflexão
do Evangelho de sexta-feira 10 de Junho
Mt
5,27-32 – Não cometerás adultério
O respeito social e a defesa jurídica do
matrimônio, desde a antiguidade, são considerados valores importantes para
garantir a dignidade da pessoa e a primazia do bem comum. Assim como o fato de
matar é censurado por ser o homem “imagem de Deus”, igualmente o adultério é
proscrito pelo fato de o Deus santo querer que todos sejam templos vivos do
Espírito Santo. O matrimônio, elevado ao nível de sacramento, reflete a união entre
Cristo e a Igreja, laço eterno que o transfigura, pois fundado no amor, ele é
introduzido no Reino eterno de Deus. Fato ressaltado por S. João Crisóstomo, que
se dirige aos cônjuges dizendo: “Usai castamente do matrimônio, e vós sereis os
primeiros no Reino dos céus, e gozareis de todos os bens”.
A integridade espiritual ultrapassa o
fisiológico e fala da grandeza da estrutura do ser humano, que compreende a
união da natureza e da graça, que não se opõem, mas que, ao se complementarem,
conduzem o casal à plenitude do ser em Deus. Assim, o sentido primeiro e o fim
último do matrimônio é o amor conjugal, que “de dois seres, faz um só”.
Todavia, impõe-se preservar, integralmente, a santidade do matrimônio, como
enfatiza o próprio Senhor: “Todo aquele que olha para uma mulher com desejo
libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração”.
Cada um dos cônjuges deve sentir-se
morada de Deus, na unidade de sua pessoa. O ser humano jamais pode ser reduzido
à natureza ou a qualquer uma de suas partes: o exterior reflete o interior,
pois a vinda do Reino coincide com a maturidade perfeita do amor conjugal. Nesse
sentido, Jesus valoriza os atos internos, mesmo que estes não tenham efeitos
externos, pois “é do coração que provêm os maus pensamentos”. Portanto, é
graças à harmonia entre exterior e interior, atos e pensamentos, “o olhar e o
coração”, que o homem é reconhecido na retidão de sua pessoa e na sinceridade
de suas ações. E para que não haja delongas ou falsas interpretações, Jesus
emprega a hipérbole da amputação física: “Arrancar o olho, cortar a mão e
lançá-los para longe”. Trata-se de uma cirurgia espiritual para conservar a
pessoa íntegra, não só no presente momento, mas também no juízo final, porque,
ao acrescentar: “E lançá-los para longe”, Ele deixa claro o desejo de extirpar
o mal para sempre, sem retorno.
Ser discípulo de Jesus comporta a
necessidade de uma escolha: ou participar da alegria e felicidade com Deus, ou
da miséria e tristeza, distante dele. Se permanecer unido ao Senhor, ele participará
da salvação, particularizada e limitada, porém, com limites que abrangem os do
próprio universo, e será conduzido por Ele à feliz eternidade do Pai. Por
conseguinte, o estado conjugal não é propriamente uma questão ética, mas
ontológica, pois sua realidade total só se realizará na Páscoa futura do Reino
de Deus, “fim e cumprimento consumado do homem caído em Adão, mas soerguido por
Jesus” (Orígenes).
Dom Fernando
Antônio Figueiredo, OFM
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