Reflexão do Evangelho de quarta-feira 15 de junho
Reflexão
do Evangelho de quarta-feira 15 de junho
Mt 6,
1-6.16-18 - A esmola em segredo
Para
os judeus, a esmola, a oração e o jejum, frequentemente recomendados nas
Escrituras, eram as colunas mestras da vida religiosa e os sinais
característicos da pessoa piedosa. Porém, no tempo de Jesus, havia quem os
praticasse com o simples intuito de se mostrar justo diante dos homens, sem um
correlato interior. Daí o alerta de Jesus: “Guardai-vos de praticar a vossa
justiça diante dos homens para serdes vistos por eles”. A questão não é de ser
visto, mas de fazer para ser visto pelos outros, fato que afeta a liberdade
interior, ou seja, a possibilidade de ouvir Deus, forma de atividade, que se
traduz em ações concretas de união, como o amor a Deus e ao próximo. A
verdadeira piedade é mais do que parecer ser bom e santo; ela libera o
dinamismo interior da natureza humana, conferindo ao homem a percepção de sua
liberdade como força que acolhe conscientemente o outro e estabelece com ele uma
convivência pacífica e solidária; vale dizer, ele é virtuoso.
Por
outro lado, a vaidade, a vanglória e a avidez tornam a pessoa espiritualmente
insensível e a levam a se enclausurar em seu próprio “eu”, esquecendo que Deus
existe e ignorando o próximo. Tal atitude não se limita a um determinado grupo,
mas está presente em qualquer pessoa. A esse respeito, observa Orígenes: “Como
a água está sempre em luta com o fogo e o fogo com a água, por serem opostos um
ao outro, assim também o egoísmo e a virtude jamais poderão coexistir na mesma
alma”.
Por
conseguinte, pela prática dos atos de piedade, o discípulo expressa
positivamente o desejo de não se deixar vencer pelo egoísmo (philautia), mas ser orientado pelo
compromisso de viver o amor, a solidariedade e o cuidado da criação, como lugar
de diálogo com os homens entre si e com o Criador. Então, na “casa comum”, o
mundo, em seu ser social e comunitário, ele realizará seus atos de piedade no
segredo do coração, isto é, de modo sincero, espontâneo e modesto, não “de pé”
para ser visto por todos, mas na presença do Pai, “que vê o que está
escondido”. Dizia um autor anônimo dos primeiros tempos: “Deus reside no
segredo do coração e não num lugar secreto; é o próprio Deus que revela o bem
realizado nesta vida e, na outra, glorificará quem o fez, pois a glória é de
Deus”. Em suma, no silêncio da alma, “no segredo do coração”, encontramo-nos
com o Filho unigênito do Pai eterno, no qual vivemos, com quem rezamos,
jejuamos e damos esmola.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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