Reflexão do Evangelho de terça-feira 21 de junho



Reflexão do Evangelho de terça-feira 21 de junho
Mt 7, 6.12-14 - Não deis aos cães o que é santo


       No relacionamento com o próximo, também com o que é precioso e sagrado, faz-se necessário o dom do discernimento, arte de distinguir e reter o que deve ou não ser feito ou dito. Nesse sentido, o Senhor urgia a prática da “regra de ouro”, que devia inspirar os Apóstolos e levá-los a fazer ao outro o que esperavam que ele lhes fizesse. Semelhante dito sapiencial de autoproteção, que já se encontrava, em forma negativa, em Tobias (4,15), Jesus o insere no contexto dos mandamentos de Deus e o transforma em ato de amor, do qual dependem “toda a lei e os profetas”. Essa exigência do amor surpreende seus ouvintes, sobretudo, pelo fato de estender o mandamento do amor até abranger o inimigo, que era considerado como “não-irmão”.
A seguir, Jesus alerta os discípulos sobre o perigo de atentar contra o que é consagrado a Deus, dando aos cães o que é santo ou atirando pérolas aos porcos. A propósito, escreve S. Hilário de Poitiers: “O apelo evangélico visa a não expor os mistérios divinos a quem não os merece ou não está preparado para acolhê-los”. Melhor, com essas palavras o Mestre quer que os Apóstolos levem em consideração o fato de que o Reino de Deus, que estava chegando, exigia uma conversão profunda: para se cumprir a vontade do Pai não se pode seguir na vida de modo indeciso, como se a salvação estivesse em suspenso. Por isso, logo a seguir, Ele fala de dois caminhos possíveis: o primeiro, largo e cômodo, que conduz à perdição, o outro, estreito e exigente, que dá acesso à salvação. Este requer, no dizer de S. Jerônimo, “desprendimento e esforço, renúncia e sacrifício: poucos são os que o encontram”.
       O Mestre não deseja desencorajar ninguém. Ao contrário, Ele apresenta a mensagem do Evangelho, como caminho para a vida, e declara claramente que Ele veio não para condenar, mas sim para salvar. Ideia retomada por S. Bento, ao exortar os monges a “não abandonarem o caminho da salvação, ao qual se tem acesso através de uma porta estreita. Aliás, na medida em que se avança na vida monástica ou cristã, o coração se dilata, para percorrer, na indizível doçura do amor, o caminho dos ensinamentos divinos”. Proposição paradoxal. Se o caminho e a porta são estreitos, porém ao entrar e ao se comprometer, o coração do discípulo se dilata no encontro com Cristo, que, qual bom Pastor, o toma em seus braços e o sustenta. A nós, a responsabilidade da escolha, tendo presente, o que observa S. Agostinho: “O caminho estreito só pode ser trilhado pelos corações humildes e pacíficos”.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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