Reflexão do Evangelho de quinta-feira 23 de junho
Reflexão
do Evangelho de quinta-feira 23 de junho
Mt 7,
21-29 - Os verdadeiros discípulos
Aos olhos de Jesus, não escapava o andar
arrogante dos doutores da Lei, que mantinham uma atmosfera de falsa piedade e
de formalismos cultuais. Sem desprezá-los, mas querendo preservar os Apóstolos
desse perigo, recomenda-lhes: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’,
entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que
está nos céus”. Para ser salvo, não basta aparentar piedade, é necessário ter
fé. Fé autêntica, fundada no cumprimento da vontade do Pai e na prática do bem.
A dicotomia entre o “dizer” e o “fazer” é desconhecida a Jesus para quem dizer
é fazer (rhêma, em grego, ou dâbâr, em hebraico).
Por
conseguinte, dizer “Senhor, Senhor”, é comprometer-se a viver de acordo com os ensinamentos
de Jesus e a testemunhar a sua mensagem, que significa para o discípulo
salvação, embora ele se reconheça pecador e indigno. Não basta invocar o nome
do Senhor, é preciso fazer a sua vontade: a consistência da profissão de fé se
fundamenta numa existência ativa, em sentido ético e religioso, que permite ao
discípulo desdobrar suas possibilidades humanas e ser conduzido à “luz” do
Tabor, pois, segundo Orígenes, “todo homem é por natureza templo de Deus, e foi
criado para acolher em si a glória de Deus”. Por conseguinte, a Palavra de
Deus, eficaz nela mesma, não dispensa jamais a colaboração do homem, pois Deus
permanece, ousamos dizer, à espera de sua decisão, ato livre de sua vontade.
Após
salientar esses importantes aspectos da vida e da espiritualidade cristã, Jesus
passa, naturalmente, a falar da necessidade de construirmos nossa casa
espiritual não sobre a areia, mas sim sobre a rocha. O modo como edificamos torna-nos
capazes ou não de sobreviver às tempestades, que advirão no decorrer de nossa
existência.
Mas
o simples fato de o Mestre subentender que a casa está em fase de construção
traz-nos consolo e tranquilidade. Pois anteriormente, ao proclamar os preceitos
do Sermão da Montanha, suas palavras soavam como se nós devêssemos cumpri-los imediatamente
e de uma só vez. Agora, Ele abre os
horizontes e nos permite compreender que temos a vida toda para trilhar a via
estreita da perfeição e construir nossa morada espiritual, pedra por pedra. O
homem, apesar de permanecer homem, no dizer de Máximo, o Confessor, “é
inteiramente iluminado, na alma e no corpo, mediante a graça e o divino
esplendor da glória que o penetra paulatinamente”. Dele, porém, sempre se
requer uma decisão firme e resoluta, uma vez que construir sobre a rocha
significa “edificar a própria vida sobre Deus”, frequentemente denominado “a
Rocha” (Dt 32, 4-31; Sl 62,6; Is 26,4).
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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