Reflexão do Evangelho de terça-feira 14 de junho
Reflexão
do Evangelho de terça-feira 14 de junho
Mt 5,
43-48 - Amor aos inimigos
Oculto
em sua humanidade, o Filho de Deus se dá a conhecer como “suprema epifania” do
incomensurável amor de Deus, demonstrado em sua bondade para com o povo. Seus
seguidores, incluídos em sua vida humano-divina, hão de viver essa mesma
inspiração no amor a Deus, manifestado em amor ao próximo e em serviço. O amor revela-se
um projeto da liberdade, que compreende, em seu aspecto humano, a afetividade (éros), força natural para o bem, e, como
fonte geradora, o amor de Deus, comunicado a nós como dom divino: é o amor-doação
(ágape), que estende a noção de
próximo até abranger o inimigo. Assim, quem quer seguir Jesus não poderá pôr
limites em seu amor. A exigência de amor é a praxe dos “filhos de Deus”, que superam
as fronteiras de raça e de preconceitos, e tornam tanto o éros, força presente no coração humano, como o amor divino (ágape), conaturais à condição humana.
Por
isso, sem qualquer receio, os primeiros cristãos proclamam a total compatibilidade
de ambos, colocando-os no interior do mistério da salvação. Embora acentuem a
unidade do amor presente na criação e na história da salvação, eles não deixam
de assinalar a possível degeneração do éros
em práticas religiosas ou cultos idolátricos, sem deixar, no entanto, de propor
a sua purificação. Nesse sentido, grande foi o mérito de Orígenes, que destaca,
na interpretação do Cântico dos Cânticos, a acepção mística e espiritual da
afetividade humana (éros), ao
estabelecer as relações Logos-alma, Cristo-Igreja. Para o pseudo Dionísio o
amor, em sua unidade, é fonte de realização e felicidade, pois “o que é Belo e
Bom é desejável (erastón), apetecível
e amável (agapetón)”.
Na dinâmica do amor reconhecemos no
outro o “próximo”, melhor, nós nos colocamos na condição de fazer-nos “próximo”
dos outros, e estabelecemos verdadeira comunhão, seja com os membros da família
ou da própria raça, seja com todos os homens, mesmo com os próprios inimigos:
para Jesus não há inimigo que Ele não ame. O próximo só existe quando nos
dispomos a ajudar e a auxiliar alguém, aproximando-nos dele para fazer o bem
ou, simplesmente, para nos comunicarmos com ele. Assim, para além da fé e da
esperança, que hão de passar, somos introduzidos na esfera espiritual do amor divino,
que não é possessivo, mas impregnado de respeito e de afeto desinteressado. O
amor-relação, que tudo atrai e tudo une, nos permite viver as palavras de
Jesus: “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”. Graças ao amor,
participamos da própria unidade de Deus e viveremos em comunhão com todas as
criaturas, e seremos, de certa forma, divinizados.
Dom
Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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