Reflexão do Evangelho de Domingo - 23 de Fevereiro

Reflexão do Evangelho de Domingo - 23 de Fevereiro
Mt 5, 38-48: Olho por olho e dente por dente
        
         Soa-nos estranha a prática da vingança sancionada pelo código mosaico: “olho por olho e dente por dente”. Ela é suavizada pela lei romana do “talião”, ao determinar que a compensação não exceda ao dano. Mesmo assim, tal interpretação não corresponde ao objetivo próprio da Lei, cuja intenção é frear o ímpeto da vingança pessoal e levar à santidade de vida, embora, como observa S. Agostinho, “o referido preceito já expresse perdoar um pouco e indique o início de uma justiça misericordiosa”.
         Esse raio de luz, presente na antiga Lei, conduz-nos ao esplendor da luz divina, o Filho de Deus encarnado, no qual se realiza a lei da aliança, do Reino, que supõe uma união total dos discípulos ao seu Mestre, à sua vida, toda dominada pelo amor-agape, doação total. Em sua aniquilação voluntária na cruz, Jesus é a manifestação vitoriosa neste mundo do amor do Pai, que leva a amar até os próprios inimigos. Ninguém se sente separado ou rejeitado. Realizam-se as palavras do Senhor: “Eu vim não para abolir a Lei, mas sim para aperfeiçoá-la”. A violência perde o seu ímpeto e é colhida “nas redes da paciente caridade”, e cumpre-se em nós o preceito do Senhor: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”.
         Com seu olhar perspicaz e penetrante, o Senhor reconhece, no coração de seus ouvintes, a reação humana imediata de revidar a ofensa recebida. Para confirmar e esclarecer o que acabara de dizer, Ele expõe breves, mas significativos exemplos. Alguém que levou uma bofetada na face e sente-se atingido em sua honra, já tem seu braço levantado e preparado para revidar. O que diz Jesus? “Oferece-lhe a outra face” e “àquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te obriga a andar uma milha, caminha com ele duas”. Sem deixar de ser judeu, em suas concepções, Mateus oferece uma interpretação missionária e universalista da Lei, que é interiorizada e compreendida à luz da lei evangélica, com seu motivo norteador: “Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”. Nos discursos de Jesus, “Pai” significa a fonte de todo o bem, que vivido pelo homem, torna-o íntegro, reto (“perfeito”). Jesus é o Filho que reflete a plenitude do Pai e convida-nos a sermos filhos, como Ele o é.
Aos olhos dos discípulos, Jesus desdobra o mandamento do amor generoso e gratuito, que S. Hilário de Poitiers repete ao dizer: “Jesus nos mostra a necessidade de distribuir a graça que recebemos, para que seja gratuita a distribuição de um bem gratuito. A quem pede emprestado, não recusemos o que o próprio Deus nos empresta”. O amor, que nos reúne todos numa única comunidade de vida em Cristo, vence o mal com o bem, e nos torna, desde já, participantes da feliz eternidade de Deus. 


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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