Reflexão do Evangelho de Quinta-feira – 13 de Fevereiro

Reflexão do Evangelho de Quinta-feira – 13 de Fevereiro
Mc 7, 24-30: Cura da filha da Cananeia
        
         Jesus se encontra em terra estrangeira, cuja população se liga aos antigos cananeus, execrados pelos judeus. E é uma filha desse povo que suplica, exclamando como os dois cegos: “Tem piedade de mim, Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim; a minha filha está horrivelmente endemoninhada” (Mt 15,21). Observa S. Hilário de Poitiers: “A filha da mulher cananeia aparece como figura de todos os povos pagãos, que se converterão ao Senhor”.  Incomodados pelos rogos insistentes, os discípulos dirigem-se a Jesus e pedem-lhe: “despede-a”, no sentido de libertá-la e conceder-lhe a graça solicitada. Pela primeira vez, constata-se a intervenção direta dos discípulos, em uma mediação positiva.  
          A resposta imediata do Senhor reflete a mentalidade presente entre os judeus, de que o Messias daria prioridade aos filhos de Israel: “Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-los aos cachorrinhos”. No entanto, a cananeia persevera e não desiste, sua fé é grande e ela crê que Jesus pode curar a sua filha. Com confiança, ela profere a surpreendente confissão: “Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!” “Para seu proveito, escreve S. Efrém, ela não levou em conta o fato de Jesus se referir ao cão. Por isso, declara o próprio Senhor: ‘Mulher, grande é a tua fé!”
Por sua atitude humilde, a cananeia torna-se modelo para a Igreja e manifesta que o Reino de Deus se estende para além dos limites étnicos e sociais, o que leva  S. Agostinho a exclamar: “A mulher provém de um povo pagão e é símbolo e figura da Igreja, grandemente louvada pela sua humildade, enquanto outros estão cheios só de seu orgulho”.  De fato, livre de todo preconceito e não temendo ir a um estrangeiro, ela aborda o Senhor, rogando-lhe a cura de sua filha e, em seu despojamento, ela revela sua abertura radical ao amor e à bondade divina.
A cena nos comove e nos encanta. A simplicidade e sinceridade da mulher refletem sua cordial entrega nas mãos de Deus, o que nos faz lembrar a cândida alma de Francisco de Assis, que, louco por Cristo e pela “dama pobreza”, vive a liberdade interior: não exige, simplesmente suplica, não é arrogante, coloca-se aos pés do Mestre, na humildade e no respeito ilimitado a toda criatura, mesmo a um simples cachorrinho. Ao dirigir-lhe seu olhar, Jesus desperta confiança inextinguível no coração orvalhado daquela mulher, que ao ouvir as suas palavras: “pelo que disseste, vai: o demônio já saiu da tua filha”, ergue-se e, com um sorriso grato e alegre, retira-se. E naqueles que lá se encontram, dentro de cada um arde a chama sagrada da misericórdia do Senhor.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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