Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 28 de Fevereiro
Reflexão do Evangelho
de Sexta-feira – 28 de Fevereiro
Mc 10, 1-12: Perguntas
sobre o divórcio
Acalorada
era a discussão entre os rabinos sobre o motivo que legitimava o repúdio da
própria mulher. A questão girava ao redor das determinações do Deuteronômio,
cujas expressões eram pouco precisas. Para testar Jesus, os fariseus lhe
perguntam: “É lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo que seja?” Os
mais rígidos, escola de Shammai, interpretavam o texto bíblico em seu sentido
estrito: só em caso de uma conduta deveras desonrante. Ou em sentido mais
amplo, escola de Hillel, segundo a qual se podia repudiar a mulher por não
importa qual motivo. A pergunta é capciosa e visa colocar Jesus à prova.
Ciente
do que se passa no coração de seus ouvintes, o Senhor situa a questão no quadro
dos desígnios do Pai. Sem negar a Lei, é necessário superá-la não se deixando
limitar por ela. Com sabedoria, Jesus põe em evidência o gesto inicial da
criação do universo: o amor de Deus. No “princípio, Deus os fez homem e
mulher”. Princípio não temporal, mas sim absoluto e eterno, que indica nossa
eleição em Deus e nos remete aos desígnios eternos do Pai, que nos chama a ser
imagem da própria Trindade, unidade perfeita no amor.
Através
dos tempos e das civilizações, a marca indelével de Deus permanece em nós, não
menos presente que a natureza humana saída das mãos de Deus. Nada poderá
destruí-la, nem mesmo o pecado, embora ele nos torne dessemelhantes a Deus. A
imagem, porém, jamais a perdemos. Sendo amor, escreve S. Gregório de Nissa,
“Deus colocou também esta marca em nosso coração”. Desde a criação, fomos
iniciados na comunhão do amor divino para vivê-lo e testemunhá-lo.
Ao amor infinito e
gratuito de Deus, respondemos com nossa fidelidade e doação generosa. Misterioso
e amoroso horizonte, que nos permite compreender as palavras de Jesus: “O que
Deus uniu o homem não separe”. Portanto,
o matrimônio é sinal sagrado do amor de Deus e, desde o início da era cristã,
ele se realiza na Igreja, diante do seu ministro: “in facie ecclesiae”. Em sua
carta a S. Policarpo, S. Inácio de Antioquia declara: “Convém que os homens e
as mulheres que se casam, contratem sua união com o parecer do Bispo, a fim de
que seu matrimônio se realize diante do Senhor”. S. Inácio reconhece que o
matrimônio, instituição natural, foi enobrecido e elevado por Jesus à dignidade
de sacramento. Certamente, estão presentes a ele as palavras do Apóstolo S.
Paulo, que se refere ao matrimônio como imagem da união mística de Cristo com a
Igreja, sua esposa (Ef.5).
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, OFM
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