Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 03 de Fevereiro

Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 03 de Fevereiro
Mc 5, 1-20: A cura do endemoninhado gadareno
        
         O evangelista S. Marcos descreve a vinda inesperada do Reino divino que, na pessoa de Jesus, coloca em questão o reino do demônio. Impressionadas, as multidões sentem um medo sagrado diante do poder sobrenatural, que irradia de sua presença e que se afirma, de modo particular, na vitória contra o reino do mal.  É o que se vê no episódio dos gadarenos.  Jesus encontra-se em terra estrangeira, na Decápole, na margem Este do lago de Genesaré. E eis que dele se aproxima um homem possuído pelo demônio, descrito como possuidor de grande força: “Ninguém podia dominá-lo, nem mesmo com correntes” e não havia cadeias que o pudessem prender. Mas, reconhecendo a superioridade de Jesus, ele se prostra e, sem resistência, declara conhecer sua identidade: “Já de longe, ele clamava em alta voz: ‘Que existe entre mim e ti, Jesus, filho de Deus altíssimo?’”
         Reflete-se o pasmo do homem, possuído pelo demônio, diante do fato de Jesus estar em território pagão, sem ter ainda estabelecido, definitivamente, o seu Reino. Este só se manifestará, em seu caráter triunfal na sua Ressurreição, prelúdio de sua vinda gloriosa nos fins dos tempos. A expulsão do demônio ou, como relata o evangelista, dos muitos que possuíam aquele homem, significa o rompimento com os deuses estrangeiros e marca a vitória do Senhor, que o obriga a se desmascarar. Comenta S. Jerônimo: “Jesus o expulsa. É como se Ele dissesse: sai de minha casa, que fazes em minha morada? Eu desejo entrar: ‘Sai deste homem’. Sai deste homem; abandona esta morada preparada para mim. O Senhor deseja sua casa: sai deste homem”. Vendo-o livre do demônio, os gadarenos enchem-se de temor (phobos), a ponto de pedir-lhe “que se afastasse do seu território“.
Esta cena recorda a ação misericordiosa do Senhor, que veio até nós, atrás da “ovelha desgarrada”, o que leva S. Irineu a dizer que “Ele veio até à profundidade da terra”. Por outro lado, a figura do demônio, pedindo para ser mandado “aos porcos, a fim de entrar neles”, ressumbra a aversão dos judeus aos porcos e manifesta certos laivos de ironia: os espíritos “imundos” entrando nos imundos porcos. Após a cura, o homem permanece “sentado, vestido e em são juízo” e, vendo que Jesus se retirava, acompanha-o. No entanto, o Senhor despede-o e ordena que ele volte para sua casa, para junto dos seus. Ele será a presença silenciosa da cura e do anúncio da misericórdia de Deus, que veio a nós para nos libertar e estabelecer plena comunhão conosco.    


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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