Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 24 de Fevereiro
Reflexão do Evangelho
de Segunda-feira – 24 de Fevereiro
Mc 9, 14-29: A cura do
epilético endemoninhado
Além
de ser um desafio às leis naturais, o milagre traz uma significação espiritual
para o cristão, que, pela fé em Cristo, associa-se ao nascimento constante da
criação, no qual ele encontra sua própria realização. De modo simples e sóbrio,
evitando o sensacional, o milagre, realizado por Jesus, proclama nossa
reconciliação e comunhão na grande síntese do divino, do humano e da natureza,
pois “na plenitude dos tempos, exclama S. Máximo o Confessor, essa síntese será
visível em Cristo, compêndio dos desígnios de Deus”. De fato, estamos inseridos
num grande movimento de regeneração e reconciliação, que tende a Cristo e nele
se realiza. Graças à fé, o milagre é um sinal do que se opera na criação
renovada e que se manifestará na plenitude dos tempos: ele converte e cura,
regenera e renova a vida, como no caso de Nicodemos e do cego de nascença e de tantos
outros. No entanto, há os que não acolhem Jesus e chegam mesmo a atribuir seu
poder ao demônio, chegando a declarar: “É pelo príncipe dos demônios que ele
expulsa os demônios”.
No
Evangelho de hoje, encontra-se diante de Jesus um pai com seu filho epilético e
endemoninhado. Na ausência de Jesus, o Pai havia recorrido aos discípulos, sem nada
conseguir. O olhar tranquilo e severo do Senhor dirige-se então aos Apóstolos e,
convocando-os à fé, Ele os repreende: “Ó geração incrédula! Até quando, estarei
convosco?” A voz aflita e confiante do pai, “mas, se tu podes, ajuda-nos, tem
compaixão de nós”, permite-nos reconhecer a bondade misericordiosa do Senhor,
que cura o jovem e o liberta do demônio.
Pasmos, os discípulos
lhe perguntam: “Por que não pudemos expulsá-lo”? A resposta é direta e
contundente: “Foi por causa da fraqueza da vossa fé”. E, utilizando uma
hipérbole rabínica, Jesus acrescenta: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda,
direis a este monte: Transporta-te daqui para lá, e ele se transportará, e nada
vos será impossível”. Expressão apropriada às circunstâncias, já que se
encontram ao pé do monte Tabor.
Com efeito, a fé assinala abandono e abertura
do coração para Deus. É busca incessante de Deus, o que leva S. Agostinho a
dizer: “Se alguém ora para expulsar um demônio de outra pessoa, muito mais ele deve
orar, com perseverança, para expulsar a própria avareza, o vício da embriaguês,
a luxúria e o egoísmo da própria alma. Quantos são os vícios do homem que, se
não forem eliminados, o excluem do Reino do céu”. O homem de fé ora e participa
da intimidade de Deus e, no silêncio interior, sente-se livre, sereno, capaz de
expulsar o mal de sua vida e de seus irmãos. Por isso, S. Agostinho não
hesitará em aconselhar: “Não deves aproximar-te do demônio pelos desejos
mundanos e que ele não ouse aproximar-se de ti. Ele pode ladrar e provocar, mas
não pode morder, a menos que tu queiras. Pois não é de modo forçado que ele te leva
ao mal, mas sim por persuasão: ele não extorque nosso consentimento, ele
suplica-o”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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