Reflexão do Evangelho do dia 02 de Novembro de 2012


Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Finados – 2 de novembro
Saudade sim, tristeza não!

Desde os primórdios do Cristianismo, o dia de Finados esteve presente nas celebrações da Igreja. Os sacramentários romanos atestam que existia, desde muito tempo, o uso de celebrar missas pelos mortos. Principalmente, quando não se celebrava imediatamente após os funerais, devido às perseguições. A tais celebrações se ligam as missas de sétimo e trigésimo dia.
Neste mesmo período, iniciou-se a prática, presente ainda em nossos dias, de fazer a memória dos mortos e vivos nas celebrações eucarísticas. Os nomes dos falecidos eram guardados em registros denominados Libri Vitae (Livros da Vida). Surgiram, então, as necrologias e os obituários, passando das menções generalizadas às individuais. Porém, uma preocupação logo se fez presente: lembrar-se de todos os falecidos que, por algum motivo, não constavam nas listas. Decidiu-se, então, estabelecer um dia do ano para se rezar na intenção litúrgica de todos os que passaram desta vida. Entre os anos 1024 e 1033, convencionou-se comemorá-los no dia 2 de novembro, o tão conhecido Dia de Finados, por ser o dia litúrgico que se segue à festa de Todos os Santos.
Desde o início, o conteúdo principal da celebração jamais foi a morte, mas a fé na Ressurreição e, conseqüentemente, a esperança de estar um dia perante Deus em Sua morada. É antecipação, na terra, da feliz eternidade em Deus. Agradece-se a Deus a existência dos antepassados e acende-se uma vela, proferindo uma oração, para recordar a luz que nos iluminou, através de nossos pais, avós, parentes e amigos. A luz não se extinguiu com a passagem deles para a eternidade de Deus. Se em nossos corações a luz significa o perpétuo brilho da fé, as flores nas sepulturas anunciam a felicidade da ressurreição.
        No Dia de Finados, rezamos não aos mortos, mas pelos mortos, pois todos, os vivos e falecidos, participam da Comunhão dos Santos, que jamais se desfaz. Encontram-se todos no regaço amoroso do amor inefável e misericordioso de Deus. Escreve S. Ambrósio: “Pois, para não ser de novo a morte o fim da natureza humana, foi-lhe dada a ressurreição dos mortos”. E continua S. Ambrósio: “Refulge em nossos corpos a morte de Cristo, aquela ditosa pela qual se destrói o ser exterior, a fim de ser renovado nosso homem interior e se desfaça nossa habitação terrena, abrindo-se assim para nós a habitação celeste”. 
A palavra morte, do latim mors, mortis, traz em geral, uma sensação de tristeza e de medo. O próprio Jesus, no horto das Oliveiras, sentiu angústia e chegou a suar sangue. Porém, ele acolheu a morte e todo o sofrimento que ela comporta, oferecendo-a ao Pai em nosso favor. Tal oferta trouxe a salvação e a esperança ao coração da humanidade. Assim, a tristeza, sentida na hora da morte de um ente querido, transforma-se em saudade. Os laços inquebrantáveis do amor eterno e fiel de Deus nos enlaçam e antecipam nosso reencontro no Reino dos Céus. “Desde já, recebe-nos ó Pai, unidos a todos os que partem para aquela feliz e intérmina vida que está em Cristo Jesus” (S. Gregório de Nazianzo). Saudade sim, tristeza não! 

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