Reflexão do Evangelho do dia 20 de Outubro de 2012


Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Sábado – 20 de outubro
Lc 12, 8-12: Confessar Jesus sem medo
       
        Dirigindo-se aos Apóstolos, Jesus diz: “Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, o Filho do Homem também se declarará por ele diante dos anjos de Deus”. Assegura-lhes que “se conduzidos às sinagogas, perante os principados e as autoridades”, não deverão se preocupar “com o que se defender, nem com o que dizer: Pois o Espírito Santo lhes ensinará, naquele momento, o que dizer”. Aliás, toda esta passagem gravita em torno do testemunho dado pelos Apóstolos, de suas relações com Jesus e do martírio. A expressão grega, normalmente traduzida por “negar-se ao serviço de Cristo”, significa literalmente “negar, dizer não”. Assim, a “negação” do Apóstolo ou do discípulo, fruto da sua liberdade, expressa a sua não correspondência ao “sim” dito ao Senhor, no instante em que se decidiu por ele. O “não”, deliberadamente dito, indica afastar-se de Jesus e abandonar seu seguimento. Por isso, é importante que o discípulo esteja disposto, a exemplo do Mestre, a sofrer a morte violenta pelo Evangelho da paz e da verdade. No entanto, o “sim” dado no início, não se reduz àquele instante, mas estende-se à missão toda, com as consequências correspondentes, inclusive o possível martírio. Aliás, nos primeiros séculos da Igreja, era comum situar a morte dolorosa do martírio como consequência lógica do batismo. Chega-se a afirmar que quem rejeita o martírio atesta ter sido batizado na água, mas não na fé. 
Em sua missão, a motivação decisiva dos discípulos é o amor a Cristo e ao Evangelho. Pois a fé não os conduz a uma doutrina de renúncia, fundada no medo de viver e no ódio à vida. O agir moral não é concebido como “a negação do desejo de viver”. A vinda de Jesus, sua encarnação, leva o homem a ser mais humano, de tal modo que agir e sofrer por amor a Cristo e ao Evangelho não significa viver só para si mesmo, independentemente dos outros. Mas é criar fraternidade e ser solidário a todos.
        Professar o nome do Senhor é fonte de realização pessoal e comunitária. Aderindo a Cristo, o Imortal, o discípulo torna-se partícipe de sua imortalidade e a renúncia deixa de ser subjetiva e negativa, para adquirir sentido permanente de vida. O discípulo atinge, então, a serenidade interior (apátheia) no dinamismo de um processo voluntário, que irá caracterizar o itinerário de sua identificação a Cristo. Seguidor do Senhor, ele sofre e morre. Porém, a morte, em todas as suas formas, transforma-se em passagem para a vida eterna. Perante o perigo da morte corporal, ele é guiado e assistido pelo Espírito divino, que lhe comunica a vida do Ressuscitado. “Ele aprendeu a não opor resistência ao Espírito Santo” (S. Basílio Magno). Nele atua não a vontade divina, como causa exterior, mas é a vida divina que nele desabrocha, graças ao Espírito Santo concedido pelo Pai e pelo Filho. No dizer de S. Irineu, “realiza-se o ardente desejo do discípulo, que se assemelha sempre mais a Cristo, à imagem do qual fomos criados”. Pois só em Deus o homem verdadeiramente realiza-se, pois “a glória do homem é a visão de Deus”.      

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