Reflexão do Evangelho do dia 11 de Outubro de 2012
Reflexão de Dom
Fernando Antônio Figueiredo para:
Quarta-feira – 10 de
outubro
Lc
11, 1-4 – A oração do Pai-Nosso
Os
judeus prescreviam a oração formal três vezes ao dia. Os rabinos tinham uma
oração específica para cada ocasião. Por sua vez, Jesus é um homem de oração
constante. Porém, alerta os discípulos contra todo tipo de formalismo, que
conferiria à oração certo cunho impessoal e mecânico. Cromácio de Aquileia
lembra que, “segundo as palavras do Mestre, nossa oração não é medida pela
prolixidade de palavras, mas pela fé do coração e pelas obras de justiça”. S.
Cirilo de Alexandria destaca que, “a loquacidade, será chamada de ‘battologia’,
palavra proveniente do nome de um grego chamado Batto, autor de longos hinos,
prolixos e cheios de repetições, em honra dos ídolos. Ao contrário, Jesus ordena
orar com brevidade, sóbria e sucintamente, pois Deus conhece nossas
necessidades antes mesmo que as exponhamos”.
A
pedido dos Apóstolos, Jesus comunica-lhes sua prece filial, a oração do
Pai-Nosso. Preciosa herança, conservada pela Igreja, que a transmite,
solenemente, por ocasião do batismo. Ela exorta o batizado a renovar em seu
coração o santo mistério da oração do Senhor. O Apóstolo S. Paulo invoca a
“tradição” de dizê-la na celebração eucarística. O próprio Jesus oferece
constantes exemplos e belos ensinamentos a respeito da vida de oração,
característica essencial dos que desejam entrar no Reino dos Céus.
A Tradição não deixa de citá-la. A Didaqué
(anos 60-80), antes de transcrever o Pai-Nosso, determina: “Assim orareis três
vezes ao dia”. A recomendação de “entregar” esta oração aos catecúmenos,
comentando-a, é feita por muitos Padres, entre os quais Tertuliano, S. Cirilo
de Jerusalém, S. Agostinho e S. Pedro Crisólogo. S. Cipriano, por exemplo, tece
comentários a respeito do Pai-Nosso, lembrando que ao se dizer: “Santificado
seja o vosso nome, não dizemos ser Deus santificado por nossas orações, mas
pedimos ao Senhor que o seu nome seja santificado em nós”. Desejamos ser uma
proclamação de fé e ter uma vida voltada para Deus, no cumprimento de sua santíssima
vontade. Deste modo, estaremos santificando o nome de Deus e abrindo o coração
aos nossos semelhantes. De fato, na oração dominical não dizemos “meu” Pai, mas
“nosso” Pai, e suplicamos “nosso” pão de cada dia. Imploramos o perdão de
nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores (aos que nos
ofenderam). Por conseguinte, ao rezar o Pai-Nosso o discípulo de Jesus recorda
que Deus o ama e, mergulhado em sua inefável misericórdia, abandona todo
egoísmo e se abre à comunhão com os irmãos, no perdão e no amor.
S. Agostinho considera que, assim como
no Símbolo dos Apóstolos se professam as verdades da fé cristã, no Pai-Nosso se
proclama a virtude teologal da esperança, à qual se segue a caridade. “A
confissão de fé está contida brevemente no Símbolo. A oração do Pai-Nosso, sob
o ponto de vista material, é alimento dos pequenos. No entanto, contemplada e
tratada espiritualmente, ela é alimento dos fortes, pois permite nascer nos
fiéis a nova esperança à qual acompanha a santa caridade”. E acrescenta o bispo
de Hipona: “Por conseguinte, só a Deus devemos pedir a força espiritual
esperada para fazer o bem e para alcançar o fruto das boas obras”.
Pela
oração assídua do Pai-Nosso, será fortalecida nossa comunhão com Deus e com a
sua santíssima vontade. Ela nos conduzirá a tudo esperar de Deus, colocando-nos
no serviço generoso e despretensioso aos nossos semelhantes.
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