Reflexão do Evangelho do dia 22 de Outubro de 2012


Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Segunda-feira – 22 de outubro
Lc 12, 13-21: Não ajuntar tesouros

        Jesus recusa ser o mediador na questão de herança entre dois irmãos. Porém, aproveita a ocasião para elevar o espírito de seus interlocutores e fazê-los passar dos interesses temporais ao “tesouro” eterno no Reino dos céus. No entanto, não deixa de alertá-los contra a excessiva preocupação com os bens deste mundo. Diz ele: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens”. De fato, escreve S. Agostinho, “a cupidez divide, a caridade reúne todas as pessoas”. Por isso, S. Ambrósio, com um sabor de crítica, observa: “O que se deveria buscar é a herança da imortalidade, não a do dinheiro, e assim jamais se deveria chamar Jesus para fazer tal divisão”. 
Para ilustrar seu pensamento, Jesus conta a parábola do rico, cuja terra tinha produzido muitos frutos. “Ele, então, refletia: Que hei de fazer? Não tenho onde guardar minha colheita” Após construir celeiros maiores, diz: “agora, repousa, come, bebe, regala-te”. E Jesus encerra a parábola com as palavras: “Insensato, nessa mesma noite ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão?” E, voltando-se para seus ouvintes, conclui: “Assim, acontece àquele que ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para Deus”.
         Suas palavras valem, não só para os que disputam a herança, mas também para os demais ouvintes. Todos são exortados a se afastarem da avareza, vista como egoísmo e idolatria, e a se deixarem guiar por uma real atitude de confiança filial e fraterna. S. Cirilo de Alexandria, meditando tais palavras, após afirmar que “a cupidez é uma forma de idolatria”, reconhece que “somos alertados por Jesus contra a avidez, pois ela constitui ódio tanto aos homens quanto a Deus”. Pela confiança em Deus, o homem tornar-se-á, então, livre para dispor generosamente de seus bens. Para incentivar essa difícil conversão, o Senhor recorda a precariedade dos bens deste mundo, diante da iminência sempre eventual da morte.
        A alternativa que Ele estabelece não é entre a pobreza e a riqueza, mas entre realização terrestre, temporária, e plenitude celeste, eterna. De um lado, a avareza, fechada sobre si mesma, é estéril e de antemão condenada por uma morte inevitável; de outro lado, a generosidade que distribui aos outros, mais pobres, o que se recebeu da liberalidade do Criador e da natureza. O modelo é o próprio Cristo que, longe de guardar avara e egoisticamente para si mesmo sua natureza e sua riqueza divina, aniquilou-se ao encarnar-se, como o trigo lançado em terra, para vencer com a sua morte o demônio, livrando o homem do egoísmo e da vaidade do pecado. Diante das palavras do rico que dizia: “Vou demolir meus celeiros, construir maiores, e lá hei de recolher todo o meu trigo e os meus bens”, S. Agostinho declara com ênfase: “o estômago do pobre é o depósito mais seguro para os grãos recolhidos”. 
        S. Basílio Magno, referindo-se a este texto, destaca que Jesus “queria conduzir o espírito do homem à generosidade para com os pobres. Toma consciência, ó homem! Quem é este que dá? Lembra-te de ti mesmo: Quem és tu? Do que és responsável? De quem o recebeste? Por que tens recebido muito mais do que muitos outros? Tu te tornaste ministro do Deus todo bondoso para administrar em favor de teus co-servidores. O que tens em tuas mãos, tu deves considerar como não te pertencendo. Por um pouco de tempo tu gozas destes bens, depois eles passam, e te pedirão contas deles. ‘Dizes tu: que farei eu?’ É necessário dizer: ‘Eu saciarei a alma do pobre, eu abrirei meus celeiros, convidarei todos os infelizes’. Lançarei este apelo magnífico: Vós que não tendes pão, vinde a mim! Que cada um tome sua parte, como de uma fonte que pertence a todos, pois são bens dados por Deus!”         

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