Reflexão do Evangelho do dia 02 de Dezembro de 2012


Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Domingo – 02 de dezembro (Tempo do Advento do Senhor)
Lc 21, 25-28. 34-36: Jerusalém cercada, a desolação

         Desolação, expressão retomada por todos os Evangelhos Sinóticos numa referência à profecia de Daniel 9,27 sobre as 70 Semanas. De acordo com as profecias, o mundo caminha para o fim. Portanto, o que Jesus fala sobre o fim dos tempos, o dia do julgamento e a destruição de Jerusalém, não era novidade para os judeus. O termo desolação, em grego “erémwsis”, alude a um lugar deserto, em que as pessoas se sentem abandonadas. Em seu sentido religioso, a palavra conduz ao esquecimento da Aliança com Deus. É ausência ou falta de afeição às realidades de Deus. O discípulo torna-se, interiormente, árido no seguimento do Senhor, resvalando para a corrupção, com o consequente enfraquecimento do ideal de vida.
Assim, as imagens da destruição do Templo, morada de Deus, vão adquirindo um forte significado para os discípulos de Jesus. Sobretudo, quando Jesus a descreve como desolação, que indica, mais radicalmente, a perda da morada interior, onde Deus habita. Para reconstruí-la é necessário ir ao encontro do Pai de Jesus Cristo levando uma vida de total doação e engajamento. Pois afastar-se de Deus é abandonar sua verdadeira identidade, esquecer sua origem e acolher os ídolos. Daí o fato de Jesus empregar o termo abominação, palavra hebraica que significa detestação, horror diante dos ídolos.
         Traça-se, assim, o quadro do fim dos tempos e anuncia-se o dia do duro julgamento para os que recusam a palavra de Deus, afastando-se da graça e da salvação. Estes permanecerão no vazio, numa vida sem Deus, na desolação. S. Cipriano e S. Agostinho afirmam que, nesse dia final, não estarão sob o teto da fraternidade os que não se purificaram e não se dispõem à comunhão. Porém, o apelo do Senhor, para que todos se voltem para Deus, ressoa e pode ser ouvido por todos. O amor do crucificado quer lavar e purificar todos os corações. Ao que se afeiçoa à pessoa de Jesus, seguindo-o, escreve S. Ambrósio, “o fim do mundo não lhe será estranho, pois já acolheu a vinda do Senhor, nascido da Virgem Maria”.
  Em seu ministério público, Jesus prepara seus discípulos, dando-lhes a certeza de que não os deixará sozinhos, mesmo em momentos difíceis e em tempo de tribulação. Os santos e os mártires, submetidos a tormentos e à morte, transformaram a prisão em templo de oração e em lugar de acesso ao trono da glória de Deus. Jamais se afastaram da presença salvadora de Jesus. Ainda que perdessem a vida corporal, conservaram sua alma intacta para o Senhor. Escreve S. Agostinho: “O mártir não se afasta do Senhor, mantém-se na fé e não teme a morte, pois sua morte corporal não se deu por ter-se afastado dele”. A desolação não tem lugar em sua existência.
  O relato termina com a fórmula exortativa “estai atentos”, vigilantes no aguardo da vinda do Filho do Homem. Ao invés de estar buscando os sinais, há de se viver intensamente cada momento, pautando sua vida segundo Deus, na expectativa da vinda do Senhor.  

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