Reflexão do Evangelho do dia 28 de Dezembro de 2012


Reflexão de Dom Fernando Antônio Figueiredo para:
Sexta-feira - 28 de dezembro
Mt 2, 13–18: Os Santos Inocentes (Fuga para o Egito)

            “Maria tomou em seus braços o Menino Jesus” e com S. José, imediatamente, partiram rumo ao Egito, lugar adequado e, ao mesmo tempo, tradicional como refúgio dos oprimidos. Ao relatar que tal fato se deu à noite, o evangelista quer justamente mostrar a pronta obediência da Sagrada Família. Observa Dionísio de Alexandria: “Ela levava Aquele que tem em suas mãos o universo, como tinha profetizado Isaías ao dizer: ‘Eis: o Senhor que, conduzido sobre uma nuvem ligeira, entra no Egito’”. A nuvem, segundo Dionísio, designa a Virgem santa, “que levou e gerou o orvalho do céu, enchendo de alegria o mundo inteiro que morria de sede”.
            A ida de Jesus ao Egito, logo no início de sua vida, reporta o relato do seu nascimento ao ponto de partida da História da Salvação. Pois, comenta S. Leão, “indo ao Egito, Cristo retornava ao antigo berço do povo hebreu. Ele é o pão da vida que desceu do céu, o alimento espiritual, levando remédio à fome, que sofriam os egípcios, frustrados da Verdade”. Unindo a infância de Israel à de Jesus, destaca-se o cumprimento da profecia do Messias como aquele que daria origem ao Novo Israel. O pequeno menino revive a história de Israel e, como seu representante, anuncia sua missão no concerto das nações.
A profecia alcança sua realização plena. Primeiramente, ao ser “chamado por Deus meu Filho” a título único e efetivando o verdadeiro “Êxodo”, marcado pela vitória sobre as tentações no deserto e pela entrada na Terra Prometida. Finalmente, por sua Paixão e Ressurreição, Jesus abre as portas da Jerusalém celeste, verdadeira Terra Prometida, a toda a humanidade. Eis o prelúdio do grande evento: o exílio no Egito, o batismo de Jesus e os 40 dias no deserto, que assinalam a vitória do Messias. Escreve Rupert de Deutz: “Apagam-se as tentações e a infidelidade de seus pais, pois os filhos de Israel, tirados do Egito, passaram pelas águas do Mar Vermelho e, conduzidos no deserto durante quarenta anos, foram tentados e encontrados infiéis”. Maria participa do mistério de seu Filho. Nela, realizam-se as palavras do Apocalipse referentes à mulher que “fugiu para o deserto onde Deus lhe preparou um refúgio para que ela aí fosse alimentada”.
Apesar desses momentos solenes e evocativos da História do Povo de Deus, o pecado e a maldade continuam a agir. O texto fala da crueldade do rei Herodes. De fato, ao perceber que tinha sido enganado pelos magos, ele “mandou matar os meninos de dois anos para baixo”. Os primeiros Padres da Igreja consideram “os meninos como portadores da dignidade do martírio” (Teodoro de Mopsuéstia). Cromácio de Aquiléia observa que “eles ainda inocentes morrem por Cristo, tornando-se os primeiros mártires”.
        A crueldade de Herodes é interpretada, por vezes, como fraqueza ou resultado de inveja ou temor diante das palavras dos Magos a respeito do nascimento do Rei dos judeus. Poder-se-ia, também, vê-la como um mal que o “possui” e que se manifesta em atos desumanos. Usualmente, diríamos que ele é um homem cruel, em quem não existe sequer um lampejo de benevolência e de arrependimento. Porém, no que tange ao julgamento eterno, à sua salvação, não podemos afirmar, de modo categórico, a sua posição real diante de Deus. Condenamos o pecado, rezamos pelo pecador.

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